4. A Verdade, muitas vezes signo de condenação

     No intuito de instruir Nestório, São Cirilo enviou-lhe uma carta advertindo-o de seus erros, dizendo que de Nossa Senhora não nasceu um homem qualquer, sobre o qual depois descera o Verbo, mas sim, que a segunda pessoa da Santíssima Trindade esteve unido desde o útero materno, assumiu o nascimento carnal, apropriando-se o nascimento de sua própria carne.
No entanto, Nestório o herege, agiu conforme um herege agiria: desprezou o bom conselho de um discípulo fiel do Deus da Bondade, inclusive segundo um autor chamado H. Bettenson, Nestório referiu-se de maneira irreverente e desrespeitosa ao Patriarca de Alexandria como “o Faraó do Egito” . E como se isso não bastasse, continuou sua pregação de modo radical, mandando prender e açoitar todos aqueles que lhe contradiziam em sua diocese, revelando sua obstinação no mal em face da verdade recebida de um humilde servo de Deus.
Em vista desta deplorável reação, São Cirilo envia-lhe a célebre “Carta dos 12 Anatematismos”, que põe os “pingos nos is” a respeito do que se deve pensar a respeito da Maternidade Divina e das duas naturezas em Jesus Cristo, propondo 12 pontos doutrinários com seu respectivos anátemas para aqueles que não o observassem.

5. O Concílio de Éfeso e a essência de sua doutrina

     Como as controvérsias se agravavam, no ano de 431 o Imperador Teodósio II convocou um Concílio em Éfeso para tentar estabelecer a paz no império.
Uma vez que a delegação papal e os antioqueanos nunca chegavam, o próprio São Cirilo abriu o III Concílio Ecumênico, iniciando a primeira sessão, proferindo os 12 “doces” anatematismos que cabem a todos aqueles que se afundaram na amarga heresia da negação da união das duas naturezas em Cristo.
Cinco dias depois, o Bispo João, Patriarca de Antioquia – que era assaz partidário do Nestorianismo – chegou com os bispos sírios e ficou sabendo do ocorrido. Houve então, um grande descontentamento da parte dos dois pólos formados: os asseclas de Nestório e João, contra os seguidores da doutrina reta defendida por São Cirilo. Os que reprovavam o santo se reuniram à parte, excomungaram-no, conseguiram uma ordem do Imperador e o aprisionaram (segundo consta, Teodósio II não se havia interado da posição do Papa Celestino I, ante o sucedido) .
Com efeito, Deus nunca abandona os que defendem o estandarte da ortodoxia, e neste caso, deu as condições necessárias para que a “Águia de Éfeso” começasse a voar.
Com a intervenção dos conciliadores, após três meses, São Cirilo foi liberto, pois através de emissários o imperador ficou sabendo que o Papa havia confirmado expressamente as conclusões do concílio e o reconhecera como ecumênico.
Assim, São Cirilo passou a ter os meios necessários para vencer a heresia nestoriana – que em sua essência dizia que em Nosso Senhor Jesus Cristo havia uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus – fundamentou ser argumento na verdade de que o Verbo, unido a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem. Segundo esta verdade, a humanidade de Cristo não tem por outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde sua concepção.
Em síntese, a definição de São Cirilo foi acatada pelo Sumo Pontífice e depois, Teodósio II rechaçou definitivamente Nestório ordenando a queima de suas obras, destituindo-o do posto de patriarca e exilando-o em Petra.
As preces de São Cirilo conquistaram da Mãe de Deus as graças necessárias para que o inimigo do redil de Nosso Senhor fosse enjaulado. Nestório era como uma pintura mal feita, que enfim recebera a moldura que condizia com a cor parda de sua heresia.

6. As barbas do defunto ainda crescem

     Entretanto não estava morto o Nestorianismo. De momento a heresia procurou ocultar-se enquanto soprava contra ela a tempestade da perseguição imperial. Nestório procurava externar em vão uma aparente submissão, entretanto continuava desde seu retiro a alimentar o fogo de suas idéias, escrevendo obras – como por exemplo “Tragédia” e “Theopaschita” – provocando agitações em seu catre.
Passados alguns anos, em 434 o herege foi conduzido ao interior da Arábia, onde permaneceu algum tempo. Mas como também aqui continuara suas polêmicas, foi transladado a um lugar denominado “Oásis no alto Egito”, que era uma espécie de prisão de Estado no alto Egito.
Foram os ares dos desertos que inspiraram a mente poluída de Nestório para compor uma obra intitulada de “Heráclites”, que é uma verdadeira defesa própria, unida a uma crítica dura e mordaz das decisões tomadas no Concílio de Éfeso.
Contudo, aos poucos o Nestorianismo foi perdendo seu eco nas almas retas e providas de bom senso. Graças às notórias intervenções da Providência que – por assim dizer – utilizou da mão do imperador para fazer sanar a infecção religiosa dos sequazes de Nestório, paulatinamente a influência diabólica do herege foi desaparecendo assim como a fumaça se desfaz ao vento.

7. A Águia Dourada

     Assim estava destruído o colosso de barro inventado por Nestório e mais uma vez, a luz da verdade rasgou a escuridão dos liames que satanás queria envolver a Santa Igreja. São Cirilo foi o instrumento escolhido por Deus, o homem providencial que não recuou o peito contra a lança inimiga da Cristandade. O resultado não oi outro, senão a aniquilação da vil serpente que tentara seduzir o mundo mais uma vez para ir contra seu Criador que, no entanto, foi capturada por uma águia garbosa e voraz, que através de sua contemplação ao “Sol” obteve deste, as forças necessárias para apanhar a maldita víbora e triturar sua existência através do esplendor da ortodoxia da esposa mística de Cristo, Igreja Católica, Apostólica e Romana, luz de nossos olhos, alegria do mundo inteiro e razão de nossas vidas.
Ó glorioso São Cirilo fostes verdadeiramente a Águia de Éfeso, Águia Dourada que amou tanto o Sol que se tornou um raio dele, obtende da Santa Mãe de Deus, as graças necessárias para que todos os amigos da Cruz tenham vossa integridade e coragem, para que nos quatro cantos da Terra seja defendida e proclamada a Glória do Sagrado Coração de Jesus e do Sapiencial e Imaculado Coração de Maria!

Cf. DENZINGER, Hunerman. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de Fe e moral. São Paulo: Loyola, 2007. n. 251.
Cf. Apud FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (Séculos I-VII). São Paulo: Paulus, 1995. p. 131.
Cf. DENZINGER, Hunerman. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de Fe e moral. São Paulo: Loyola, 2007. n. 252-265.
Cf. BITTENCOURT, Estevão. Curso de Patrística. Rio de Janeiro: Escola Mater Ecclesiae. 2002.
Cf. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo; Loyola, 1995. n. 466.
Cf. LLORCA, Bernardino. Historia de la Iglesia Catolica. 2. ed. Madrid: La editorial Catolica, 1955. B.A.C. T. I. p. 569.
Cf. HUGHES, Philip. História da Igreja Católica. 2. ed. São Paulo: Dominus, 1962. p. 35.

 

(A pedido de algumas famílias, colocamos aqui o último vídeo das Cantatas Natalinas dos Arautos do Evangelho em Nova Friburgo: “The First Noel”).