O JEJUM QUE AGRADA A DEUS

A santa Quaresma é um tempo de graças durante o qual a Igreja convida todos os seus filhos a se prepararem para compreender e receber melhor o significado e os frutos do sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo no mistério de sua Paixão, Morte e Ressurreição.[1] Esta preparação é realizada principalmente através do jejum, da oração e da esmola (Cf. Mt 6, 1-18).

O jejum em todo tempo sempre foi considerado como uma manifestação do espírito de penitência, grato ao Senhor. Vemos a rainha Ester implorando o auxílio de Deus para salvar o povo judeu do extermínio, praticando o jejum (Cf. Est 4, 16). O Rei Acab suplicando e obtendo o perdão do seu erro, através do jejum (Cf. 1Rs 21, 27). A vitória de Judite contra Holofernes tendo em sua raiz o jejum realizado por ela e por todo o povo hebreu (Cf. Jd 4, 8). Mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo quis iniciar sua vida pública praticando um jejum de quarenta dias em expiação pelos nossos pecados (Cf. Lc 4,2) e ensina aos apóstolos que há certos demônios que só podem ser expulsos através do jejum e da oração (Cf. Mt 17,20).

A prática do jejum não deve ser algo meramente exterior, mas deve partir, sobretudo, do coração do homem. Deus, através do profeta Isaías, repreende aqueles que no dia do jejum tratam de negócios e oprimem os empregados, fazem litígios, brigas e agressões impiedosas (Cf. Is 58, 3-4). Não é este o jejum que agrada a Deus, mas sim aquele que parte de um coração profundamente entregue a Ele.

Mortificando o corpo consegue o homem fortalecer o espírito para vencer na luta constante contra as tentações.

A Igreja exige dos fiéis apenas dois dias de jejum ao ano: na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão e Morte do Senhor. Sendo que é apenas um jejum parcial, ou seja, podendo fazer uma refeição completa e duas leves no dia, e não comendo nada nos intervalos.

Além da prática da penitência interna e individual com o jejum dos alimentos a Igreja[2] recomenda vivamente a penitência externa e social com a prática do jejum da língua ou das palavras, evitando, por exemplo, comentar os defeitos dos outros; da audição, evitando ouvir conversas que possam denegrir a alguém, músicas que ofendam a Deus; entre tantos os outros. Tudo isso deve ser realizado constantemente, mas, de modo especial no período quaresmal.

Possa este tempo de Quaresma ser ocasião de bênçãos e de purificação para todos, buscando a prática de um jejum que seja grato ao Senhor.


[1] PIACENZA, Mauro. Carta aos sacerdotes para o início da Quaresma, 13 de fevereiro de 2013 – Quarta-feira de Cinzas.

[2] Cf. Sacrosanctum Concilium, nº 110.