A blasfêmia não compensa…

 

Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua vida pública, deixou aos apóstolos, aos discípulos, ao povo e, a toda a humanidade, conselhos de santidade; palavras de vida eterna.

No antigo testamento, o decálogo orientava o povo eleito e dava aos homens de então e dá aos de hoje normas de conduta para ser mais perfeitamente a imagem e semelhança de Deus para a qual Adão e sua descendência foram criados.

Entretanto, algumas vezes o mau uso da liberdade faz com que o ser humano se afaste de Deus pondo em risco sua salvação eterna. Mesmo assim, em alguns casos, o pecador recebe um sinal e acaba voltando à casa paterna da qual nunca deveria ter saído.

Um fato muito elucidativo a esse respeito se deu há cerca de 500 anos, na época dos descobrimentos. Quem narra o feito foi testemunha ocular e goza de boa reputação no mundo histórico. Trata-se de Bernal Diaz de Castillo um dos participantes das colonizações feitas pelos espanhóis por volta de 1514. Ele, juntamente com Gomara e Las Casas são muito bem conceituados neste ramo.

Conta Bernal Diaz que nessas épocas, Diego Velazquez, alto funcionário de Carlos V, montou uma expedição desde Cuba em direção à Nova Espanha (México). Como chefe, escolheu um parente seu; Juan de Grijalva o protagonista do fiorette.

Encabeçava o timão do navio Anton de Alaminos, um dos primeiros companheiros de Colombo.

Aconteceu que, certo dia, a pequena frota de três navios se dirigiu a Iucatan no México para explorar a região.

Em algum tempo encontraram terra firme, porém, não muito segura, pois, era habitada por índios ferozes, o que impeliu Grijalva – embora prudente, não era medroso – a mandar rezar uma missa no local.

Contudo, embora severamente advertido o padre não estava em condições: esquecera-se de trazer do navio suas vestes sacerdotais. Assim, Grijalva “censurou-o com violência maior do que seria razoável e disse-lhe algumas palavras duras que todos os tripulantes reprovaram e condenaram”. Esquecera-se ele que um homem de Deus não pode ser tratado dessa maneira.

De qualquer forma, o Capitão Grijalva resolveu acampar na ilha, uma vez que havia um bom poço nas proximidades. De repente, apareceram os índios e semearam o campo de flechas e a batalha foi inevitável. As perdas foram grandes dos dois lados: os espanhóis tiveram sete mortos e sessentas feridos. Quanto ao capitão, recebeu muitos ferimentos e, especialmente, por causa das rudes palavras que dissera ao padre, “parece que Deus quis que, combatendo contra os índios, ele fosse atingido na boca por uma flecha que lhe quebrou três dentes e, se nesse momento não tivesse os lábios cerrados, como ele mesmo compreendeu, a flecha lhe teria entrado na boca”.

Quanto ao que teria acontecido se ele tivesse aberto a boca não por acaso, mas para injuriar novamente aquele padre, seus soldados nem queriam pensar… Mas, naturalmente Grijalva podia imaginá-lo “e, tendo assim compreendido que assim o merecia por sua ação pecaminosa, pois que havia ofendido o padre publicamente, também publicamente, dando exemplo de arrependimento, ele pediu perdão”[1].

A blasfêmia opõe-se diretamente ao segundo mandamento. Ela consiste em proferir contra Deus – interior ou exteriormente – palavras de ódio, ofensa, de desafio, em falar mal de Deus, faltar-lhe deliberadamente com o respeito ao abusar do nome de Deus. São Tiago reprova “os que blasfemam contra o nome sublime (de Jesus) que foi invocado sobre eles” (Tg 2, 7). A proibição da blasfêmia se estende às palavras contra a Igreja de Cristo, os santos e as coisas sagradas.[2]

A blasfêmia é contrária ao respeito devido a Deus[3] e a seu santo Nome. Fica aqui uma boa lição de como se deve respeitar o nome de Deus, seus ministros e como a blasfêmia não compensa…


[1] MADARIAGA, Salvador. Hernan Cortês. IBRASA, São Paulo: 1961.

[2] Cf. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n°2148

[3] Cf. CIC, cân. 1369.