O Instinto de sociabilidade

Imagine-se na situação de um exilado numa ilha sem o convívio de nenhuma outra pessoa e sem a esperança de rever os amigos que teve, sem a oportunidade de ter uma conversa amigável onde possa expor seus pensamentos e suas opiniões e etc. De certo, só de elucubrar essa circunstância causa mal estar, porque o homem não é feito para viver isolado, mas, sim, para conviver com os demais.

Isto se dá por uma característica inata no ser humano: o instinto de sociabilidade.

A necessidade de viver em sociedade é tão forte que se torna o mais impetuoso dos instintos. Por causa dele se passa por cima dos demais, inclusive do instinto de conservação. Um exemplo clássico é o fato de que em ocasião de guerra muitos homens, mesmo com medo de enfrentá-la, partem por não quererem ser chamados de covardes.

No século IV a.C. encontramos, em Aristóteles, a afirmação mais antiga sobre a necessidade do homem viver em sociedade: “o homem é naturalmente um animal político” e, comparando-o aos outros animais, estes “constituem meros agrupamentos formados pelo instinto, pois o homem, entre todos os animais, é o único que possui a razão, o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto” (A Política, I. 9.). Santo Tomás completou o pensamento de Aristóteles, afirmando que: “o homem é por natureza, animal social e político, vivendo em multidão, ainda mais que todos os outros animais, o que se evidencia pela natural necessidade” (Summa Theologia, I, XCVI, 4).

Para Santo Tomás, somente três situações fariam o homem isolar-se da sociedade:

  1. A “mala fortuna”, quando um acidente, como um naufrágio, obriga o indivíduo a viver só, ou a pena de isolamento em uma prisão;
  2. A “corruptio naturae”, quando o indivíduo sofre de alguma anomalia mental;
  3. A “excellentia naturae”, quando, por virtude, o indivíduo isola-se da sociedade para unir-se mais perfeitamente a Deus.

Vivendo em sociedade os homens se completam, pois se beneficiam do conhecimento e das experiências dos demais e podem, mutuamente, ajudar-se a caminhar rumo à salvação eterna, onde poderão conviver com o próprio Deus.

Portanto, o instinto de sociabilidade será inteiramente satisfeito na bem-aventurança eterna onde poderemos conviver com os anjos e santos, e, sobretudo, com o próprio Deus e sua Mãe Santíssima.