Os efeitos da Unção dos Enfermos

A enfermidade e o sofrimento sempre estiveram entre os problemas mais frequentes da vida humana. Na doença, o homem experimenta sua impotência, seus limites e sua finitude. Toda doença pode fazer-nos entrever a morte.

A enfermidade pode levar a pessoa à angústia, a fechar-se sobre si mesma e, às vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também, pode tornar a pessoa mais madura, ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para voltar-se àquilo que realmente tem valor. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus, um retorno à Ele.

A compaixão de Cristo para com os doentes e suas numerosas curas de enfermos de todo tipo, cegos, leprosos, paralíticos, surdos, mudos etc., são um sinal evidente de que “Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16) e de que o reino de Deus está bem próximo. Jesus não só tem poder de curar, mas também de perdoar os pecados (Mc 2,5-12), ele veio curar o homem inteiro, alma e corpo, é O médico de que necessitam os doentes (Mc 2,17).

A doença está no plano divino, é consequência do Pecado Original e até dos atuais. E Nosso Senhor Jesus Cristo que veio abolir o pecado, veio para santificar e elevar o sofrimento, e mesmo para aliviá-lo sobrenaturalmente. Por sua paixão e morte de Cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora.

A Igreja crê e confessa que existe, entre os sete sacramentos, um especialmente destinado a reconfortar aqueles que são provados pela enfermidade: a Unção dos Enfermos ou Extrema-Unção.

Esta unção sagrada dos enfermos foi instituída por Cristo Nosso Senhor como um sacramento do Novo Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por São Marcos (Mc 6,13), mas recomendado aos fiéis e promulgado por São Tiago, apóstolo e irmão do Senhor.[1] Sabemos pelos Santos Evangelhos quanta benevolência teve Jesus pelos enfermos e com que solicitude atendia os seus pedidos de cura. Ademais, ao confirmar os apóstolos em sua missão universal, deu-lhes o poder de curar todo tipo de enfermidades ungindo com óleo os doentes.

A Unção dos Enfermos não é um sacramento para os mortos, mas sacramento revitalizador da fé e da saúde dos enfermos. “Alguém dentre vós está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e, se houver cometido pecados, estes serão perdoados” (Tg 5, 14-15). O enfermo é aquele que sofre no corpo e na alma. No corpo, a dor; na alma, a preocupação e a angústia.

Toda enfermidade grave quebranta a natureza humana. O paciente não é mais a pessoa que era, torna-se outra. Suas forças diminuem e com elas, sua resistência à enfermidade que o ataca. Sua integridade física e psíquica ficam abaladas. É neste momento que Cristo, por meio do sacramento da Unção dos Enfermos vem ao encontro daquele que sofre como tantas vezes o fez no decorrer de seu ministério. Que benefícios traz ao doente o sacramento da Unção dos Enfermos?

Com efeito, o óleo consagrado com o qual se unge o doente é símbolo da graça do espírito Santo. Enquanto o sacerdote unge o corpo por fora, no interior, o Espírito Santo cura e consola a alma. E o primeiro é o perdão dos pecados veniais e dos mortais que, sem culpa, tenham sido esquecidos. Remite, pelo menos em parte, a pena temporal devida pelos pecados atuais já perdoados. Estes efeitos estão claramente expressos em cada uma das fórmulas que o sacerdote pronuncia ao ungir em forma de cruz a fronte e as mãos do enfermo. E o que diz o padre? “POR ESTA SANTA UNÇÃO E POR SUA INFINITA MISERICÓRDIA, O SENHOR VENHA EM TEU AUXÍLIO COM A GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO, PARA QUE, LIBERTO DOS TEUS PECADOS, ELE TE SALVE E, NA SUA BONDADE, ALIVIE OS TEUS SOFRIMENTOS”. E depois, em alguns casos, o sacerdote unge o enfermo em vários sentidos como os olhos, ouvidos, nariz, boca, mãos e pés para simbolizar o perdão completo e absoluto que o enfermo está recebendo. É verdade que o enfermo já recebeu no sacramento da Confissão o perdão dos seus pecados, mas não é menor do que a Unção dos Enfermos que o Senhor dá um testemunho sensível, palpável e autêntico sobre o assunto. A este propósito, diz São Tomás, o batismo é uma regeneração espiritual e a Penitência uma espécie de ressurreição da alma e, com muita razão, a Unção dos Enfermos é chamada de sacramento da perfeita cura espiritual. Uma vez recebida com as devidas disposições, a alma fica livre dos resquícios do pecado, da debilidade espiritual, da inclinação ao mal e dos apegos desenfreados aos bens materiais e readquire a integridade, o vigor, a beleza e a perfeita união com Deus.

O segundo efeito é dar força para resistir ao demônio nos últimos momentos da vida. Pois o demônio, sabendo que a ele resta pouco tempo para empreender em perder aquela alma, se empenhará ao máximo nesta ocasião para alcançar seu objetivo. É justamente nesses momentos de esgotamento físico, de dores, com a imaginação penetrada de imaginações e o ânimo tomado pelo desalento que o demônio aplicará todas as suas habilidades para perder a alma por meio de intensas e contínuas tentações, desânimos e desesperos. Uma alma em tal estado, como pode pretender enfrentar um inimigo tão cruel? Com uma poderosíssima arma chamada Unção dos Enfermos.

Por fim, o terceiro efeito deste sacramento é a recuperação da saúde do corpo. A Unção dos Enfermos é um sacramento específico para a enfermidade e não para a morte. O rito da unção foi concebido e disposto, em suas leituras, orações para o restabelecimento da saúde do enfermo. Claro está que este benefício será alcançado se este for mais conveniente para a salvação eterna do enfermo e para a maior glória de Deus. À Providência divina deve-se deixar a decisão. Seja ela qual for, será sempre a melhor para o enfermo. Não se deve esquecer que Deus é Pai e ama cada um de seus filhos com amor infinito. Sempre e em tudo, ele quer o bem deles.

O ser humano é um todo, corporal e espiritual. A enfermidade atinge o homem tanto no corpo como no espírito, debilitando-o, não só biologicamente, mas também espiritualmente. O Sacramento da Unção dos Enfermos nos mostra o extremo da misericórdia de Deus que nos quer salvar a qualquer custo, tanto no corpo, quanto na alma, e quer nos introduzir à pátria celeste. É por isso que devemos desejar com todo ardor que ele nos seja ministrado quando chegar o nosso momento. Não obstante, devemos aplicar todos os meios para que também nossos parentes e amigos o recebam sempre e com a devida fé e consciência do favor que Deus os faz ante a perspectiva da morte.


[1] Concílio De Trento, 14ª sessão, Doctrina de sacramento Extremae Unctionis, c,1: DS 1695.