São Nicolau, Arcebispo de Mira 6 de Dezembro
Fonte: Pe. Bronchain, C. SS. R., Meditações para todos os dias do ano, trad. da 13. ed. francesa pelo Pe. Oscar Chagas Azeredo, C. SS. R., tomo III, Petrópolis: Vozes, 1940. Imprimatur: por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de Niterói, D. José Pereira Alves, Petrópolis, 11/12/1940, Frei Heliodoro Müller, O. F. M.
Esse santo Arcebispo de Mira é célebre nas igrejas do oriente e ocidente: lº porque foi sempre caro a Deus; 2º porque mereceu, por sua bondade, a confiança dos homens. Proponhamo nos imitá lo na fidelidade de dar glória ao Autor de todo o bem, e na sua grande compaixão para com os corações aflitos. Quis infirmatur et ego non infirmor? (2 Cor 11, 29).
A caridade de seus pais para com os pobres obteve para a terra esse rico presente do Céu. Um espírito bem aventurado anunciou lhes o seu nascimento e mandou que lhe dessem o nome de Nicolau, que significa vitória do povo. Apenas nascido, ergueu se por si mesmo e conservou se de pé durante duas horas de mãos postas, os olhos voltados para o Senhor, o que fez acreditar que ele tenha recebido, então, o uso da razão. Começou a jejuar desde o berço, porque às quartas e sextas feiras, consagradas à recordação da Paixão do Senhor, só tomava leite uma vez.
Esses atos extraordinários pressagiavam a sublime santidade a que chegou depois; isto foi revelado a seu tio, Arcebispo de Mira, o qual conheceu que a criança receberia do Céu insignes favores e operaria muitos milagres. E, com efeito, a sua bondade natural, a educação esmerada que recebeu, as graças abundantes de que foi favorecido, tudo contribuiu para torná lo um prodígio de virtudes. Após a morte de seus pais, longe de levar vida mais livre, tornou a mais austera, mais dada à oração, mais assídua no serviço divino, mais aplicada ao estudo e aos outros deveres. Empregou em boas obras o rico patrimônio que possuía.
Deus, que se não deixa vencer em generosidade, recompensou o por seu fervor e amor com uma providência cheia de ternura. Inspirou lhe uma peregrinação a Jerusalém e, durante o trajeto, deu lhe o poder de operar numerosos milagres. Conduzindo o sensivelmente em todos os seus caminhos, advertiu o que voltasse a Mira e lá esperasse a sua divina vontade. Esta manifestou se por uma revelação que fez eleger Nicolau Arcebispo da cidade depois da morte do seu predecessor. Eis as atenções paternas do Senhor para com o seu servo querido.
Se não recebemos tão grandes provas de amor da parte de Deus, é porque sem dúvida pomos reservas no nosso amor para com Ele. O nosso santo jejuava todos os dias e não se poupava em nada, enquanto que nós trememos de medo de prejudicar a nossa saúde por uma penitência moderada. Ele passava a maior parte das noites prostrado na presença de Deus, humilhado e tomado de santo temor aos pés da Soberana Majestade; e nós mal meditamos e oramos durante o dia com respeito, recolhimento e devoção. O seu amor a Deus inflamava o de santo zelo e fazia dele sentinela vigilante sempre atenta aos interesses da glória divina, enquanto que nós, voltados para nós mesmos, procuramos habitualmente a nossa própria satisfação.
Meu Deus, envergonhado confesso que, se recebo as vossas graças com medida, é por causa da minha pouca generosidade. Fazei me mais fervoroso: lº na prática da mortificação dos sentidos e da vontade própria; 2º no exercício da oração contínua; 3º na procura exclusiva da vossa glória e do vosso beneplácito. Reinai em mim, como em vosso santo, que vos foi tão caro, afim de que a minha alma, como a dele, vos seja agradável por sua conformidade ao vosso Coração divino.
A bondade do santo e sua compaixão para com os infelizes eram tão conhecidas, mesmo durante a sua vida, que de todos os cantos afluíam pessoas para usufruí las. De seu lado, São Nicolau ia ao encontro das necessidades do próximo. Numa carestia de trigo, soube por revelação que um comerciante tinha vários navios carregados num porto da Sicília. Apareceu lhe em sonho e advertiu lhe que se fizesse de vela para Mira e lá vendesse o seu trigo, o que o comerciante fez com grande proveito próprio e do povo faminto.
Inúmeras vezes o nosso santo multiplicou os víveres em favor dos necessitados. Durante dois anos nutriu a cidade episcopal com uma quantidade de trigo que mal bastava para alguns dias. Em outra ocasião benzeu um pedaço de pão, que se multiplicou, fornecendo alimento a oitenta e três operários. A caridade fazia o operar todos esses prodígios não só ao redor dele, mas também à distância e em paises estranhos.
Três oficiais condenados à morte por falsos testemunhos lembraram se de Nicolau, ainda vivo, e que tinham conhecido havia pouco. Invocaram no como se ele já estivesse coroado no Céu. A sua súplica não foi em vão. O santo apareceu em sonho ao imperador Constantino e ameaçou o com grandes castigos se não libertasse os inocentes. O imperador absolveu os e carregou os de presentes para o santo que obtivera a sua libertação.
Ó poder da caridade que triunfa do coração dos príncipes e socorre à distância os infelizes mais abandonados! Exemplos semelhantes encontramos inumeráveis na vida do nosso santo, exemplos que justificam a confiança nele depositada. Foi visto a um tempo oficiar na Catedral e dirigir um navio em perigo, cujos marinheiros o haviam invocado. Quando estes lhe foram agradecer, disse lhes o santo: “Glorificai a Deus por esse favor, eu não passo dum pecador e servo inútil; só Ele é que opera maravilhas”. Em seguida, tomando os à parte, indicou lhes certos pecados secretos de que se deveriam corrigir para não reincidirem em semelhantes perigos. Eis como os santos, unindo à humildade a caridade, se aproveitam de tudo para conduzir as almas a Deus.
Meu Divino Mestre, se os vossos servos conquistaram a confiança dos povos durante a sua vida, quanto mereceis Vós a nossa, Vós que passastes sobre a terra fazendo o bem. Dai me a graça de sempre vos invocar, a Vós e aos santos, mormente à vossa terna Mãe, com convicção intima de ser atendido. Inspirai me o desejo de obter por vossos méritos as virtudes que distinguiram o nosso santo: 1º a humildade que, aniquilando a minha estima própria, me faça dócil às vossas graças e submisso à vossa vontade; 2º a caridade que me enterneça à vista da miséria alheia e me leve a aliviá la ao menos pela oração e por palavras de conforto. Quis infirmatur, et ego non infirmor?
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