A fé de Nossa Senhora e o sábado

De onde vêm a certeza de que o sábado é dedicado a Nossa Senhora?

“A Santíssima Virgem teve mais fé do que todos os homens e anjos juntos. Ela via seu Filho no estábulo de Belém e tinha fé de ser Ele o Criador do mundo. Ela O via fugir de Herodes e não deixava de crer que era Rei dos reis. Ela O viu nascer e acreditou que era eterno. Ela O viu pobre e necessitado de comida e creu que era o Senhor do Universo. Reclinado sobre o feno e creu que era Onipotente. Observou que Ele não falava e acreditou que era a Sabedoria Infinita. Sentiu-O chorar e acreditou que Ele era o Gáudio do Paraíso. Viu-o finalmente, na morte, abatido e crucificado, mas ainda que em todos os outros titubeasse a fé, Nossa Senhora esteve sempre firme em crer que Ele era Deus”[1].

São Bernardo dizia que a relação entre Nosso Senhor e Nossa Senhora é como a relação entre a lua e o sol. A lua é para nossos olhos o esplendor da luz do sol; não é a própria luz do sol, mas reflexo. Nossa Senhora é o reflexo lindíssimo e perfeitíssimo d´Ele, não é Ele. Ela é mero espelho, entretanto é tudo que é o espelho.

“Ó Maria, Senhora do mundo, Rainha do Céu! É para Vós, como para o cento da Terra, como para a Arca de Deus, como para a causa das coisas, como para a estupenda obra dos séculos, que se voltam os olhares dos habitantes do Céu e da Terra, dos tempos passados, presentes e futuros. Por isso vos chamarão bem-aventurada todas as nações, ó Mãe de Deus, pois para todas engendrastes a vida e a glória. Em Vós acham os Anjos a alegria, os justos a graça, os pecadores o perdão para sempre. Com razão, portanto, põem em Vós seus olhos todas as criaturas, porque em Vós, por Vós e de Vós a benigna mão do Onipotente refez tudo o que Ele havia criado”[2]!

“Se Cristo é o dia que não conhece ocaso, Maria é a sua aurora resplandecente de beleza”[3].

O Beato João Paulo II faz um paralelismo entre a fé de Abraão e a fé de Maria Santíssima.

“A fé de Maria pode ser comparada com a de Abraão, a quem o Apóstolo chama ‘nosso pai na fé’ (cf. Rom 4, 12). Na economia salvífica da Revelação divina, a fé de Abraão constitui o início da Antiga Aliança; a fé de Maria, na Anunciação, dá início à Nova Aliança. Assim como Abraão, ‘esperando contra toda a esperança, acreditou que haveria de se tornar pai de muitos povos’ (cf. Rom 4, 18 ), também Maria, no momento da Anunciação, depois de ter declarado a sua condição de virgem (‘Como será isto, se eu não conheço homem’?), acreditou que pelo poder do Altíssimo, por obra do Espírito Santo, se tornaria a mãe do Filho de Deus segundo a revelação do Anjo: ‘Por isso mesmo o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus’ (Lc 1, 35)” [4].

“O Espírito Santo convida Maria a ‘reproduzir-se’ nos seus eleitos, alargando até eles as raízes da sua “fé invencível”, mas também da sua ‘firme esperança’”[5].

Juntamente com a Virgem Santa, com o mesmo coração de mãe, a Igreja reza, espera e intercede pela salvação de todos os homens. São as últimas palavras da constituição dogmática Lumen Gentium: “Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que ela, que assistiu com as suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reúnam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da Santíssima e indivisa Trindade”[6].

No momento terrível da Paixão do Salvador, no alto do Calvário, Jesus dava seus últimos suspiros. A pequena Igreja havia se dispersado: os apóstolos O haviam abandonado; algumas das santas mulheres com São João estavam reunidos em torno de Maria Santíssima aos pés da cruz. Com exceção de sua Mãe Santíssima, a fé deles titubeava.

Olhando para o horizonte, Jesus via os dias de hoje e via a cada um de nós. Vendo nossa debilidade, deu-nos por mãe a Sua própria Mães! “Mãe, eis aí teu filho!” “Filho, eis aí tua Mãe!” (Jo  19, 26 -27)

“Com sua Fé inabalável e íntegra, Nossa Senhora foi a Arca a Esperança do futuro. Todas as expectativas do Antigo Testamento acerca do Messias, todas as promessas e certezas contidas no Evangelho de que Ele seria o Rei da Glória e o centro da História, todas as realizações do Novo Testamento, toda a grandeza que a Igreja haveria de atingir ao longo dos séculos e todas as virtudes que Ela haveria de semear sobre a face da Terra inteira, tudo isso viveu dentro de uma só alma – a alma mil vezes bendita de Maria Santíssima”[7]!

No auge da incerteza daqueles que mais deveriam crer, enquanto todos os apóstolos se escondiam pelo medo da morte, Nossa Senhora sozinha continuou a crer na ressurreição. Ela possuía a confiança de que algo de grandioso ainda estava por vir. Terá Cristo ressuscitado após uma oração de sua mãe, assim como Ele veio ao mundo por seu intermédio? Maria Santíssima continuou a crer tornando-se modelo de fé para toda a humanidade mesmo quando tudo parecia perdido, Ela continuou a Virgo Fidelis – a Virgem fiel, a única que no sábado manteve a fé inabalável.

O domingo é dedicado à ressurreição do Senhor e o sábado à fé de Nossa Senhora. Não se chega a Jesus sem antes passar por Maria, assim como para chegar ao domingo temos que passar pelo sábado.


[1] Santo Afonso Maria de Ligório. Revista Arautos do Evangelho, nº 4 pg. 2, contra capa.

[2] São Bernardo Revista. Revista Arautos do Evangelho, nº 8 pg. 2, contra capa.

[3] Beato João Paulo II.  Angelus, 8/XII/2003.

[4] Beato João Paulo II.  Redemptoris Mater , nº 14, 25/03/1987.

[5] São Luiz Maria Grignion de Montfort.  Tratado da verdadeira devoção a Santíssima Virgem , pg 34.

[6] Lumen Gentium, nº 69.

[7] OLIVEIRA, Plinio Corrêa. Arca da esperança. Revista Dr. Plinio,n. 75, junho/2004.