A VOZ DO PASTOR

Com grande alegria o blog dos Arautos do Evangelho de Nova Friburgo transcreve o artigo de D. Edney Gouvêa Mattoso publicado no Jornal Voz da Serra, no dia 16 de abril deste ano, na coluna “Voz do Pastor”.

O legado do pecado

 

Caros amigos, no domingo da misericórdia, data tão querida e valorizada pelo beato João Paulo II, nosso pensamento se dirigiu ao grande amor que Deus tem por nós, pois “Deus nunca se cansa de perdoar”, mas encontra novos caminhos para estar conosco, apesar do pecado, que é fonte de desencontro e escravidão.

Ele nos criou em liberdade e para liberdade, aptos de tomar decisões e cumulados de dons que superam em muito nossa atual condição, entretanto, o demônio seduziu nossos primeiros pais convencendo-os de que Deus seria um ser invejoso e receoso de rivalidade com as criaturas, e, por isso o homem almejaria uma vida livre da tirania criadora.

Esta tentação ainda ressoa nos ouvidos dos homens quando erradamente entendem o pecado como um ato de liberdade, ou até como algo que os engrandece e singulariza. Como estão enganados os que pensam assim! O pecado só tem um efeito: a destruição da imagem do Criador nos corações. Na expressão do livro do Gênesis, depois da queda impõe-se uma desarmonia do homem com Deus (cfr. Gn 3, 10), com o semelhante (cfr. Gn 3, 12), consigo mesmo (cfr. Gn 3, 16) e com a criação (cfr. Gn 3, 17). Em um instante toda a harmonia perde-se pelo orgulho das criaturas.

Entretanto, movido por amor misericordioso, o Onipotente encontrará um meio de resgatar sua criatura da mentira diabólica, que implantou a inveja e a rivalidade no coração da humanidade: A solução perfeita é Jesus Cristo.

Para livrar-nos das “aparências de poder” que nos levaram a perdição, Deus manifestou sua força de forma inversa: sentando-se à mesa de nossa miséria, fazendo-se homem conosco, menos no pecado (Hb 4, 15), falando a Verdade e agindo segundo a Verdade de tal maneira que assumiu o ônus da mentira primordial engendrada em nossos corações: acusado de soberba e blasfêmia – “Sendo apenas homem tu te fazes Deus” (Jo 10, 33) – ; condenado a uma morte humilhante para por a prova sua fé e paciência e ver na sua face desfigurada pela nossa violência, o horror do nosso pecado de desconfiança e ingratidão. Em Cristo, vemos este Deus-homem que não nos julga, não nos trata com rancor, mas nos ama com um amor que supera as nossas expectativas e nossos limites, indo até o extremo (Jo 13, 1), a fim de nos conquistar: Tal é a misericórdia de Deus que nos liberta!

Somente nesta misericórdia “que deu ao mundo o seu Filho” (Jo 3, 16) a criação alcança sua perfeição e liberdade verdadeira; e fora dela somos pobres escravos de nossa pusilanimidade.

 

Dom Edney Gouvêa Mattoso, Bispo da Diocese de Nova Friburgo