Qual é o melhor amigo do homem?
Quem deita o olhar sobre o Reino Animal, pode perceber dentro da variedade um vastíssimo leque de classificações. Dentre os pioneiros, Karl Von Linné tem papel mor, pois se aventurou a propor as primeiras divisões, baseando-se nas diferenças e semelhanças dos seres vivos.
Entretanto, quem vê o conjunto dos seres no seu todo, observa que existem várias formas de subdividir cada espécie e gênero, resultando em um – por assim dizer – caleidoscópio de intenções. De um lado pode-se separar, por exemplo, os símios; ou então os felinos. Quiçá dividir entre aves, répteis, mamíferos etc…
Enfim, para não elevar à enésima potência a variedade do raciocínio, imagine uma sumária classificação entre eles: animais domesticáveis e animais não domesticáveis…
Analisando assim, ter-se-ia em uma faceta do prisma; o cão, o cavalo, algumas aves de rapina e até mesmo o leão, o tigre e alguns tipos de urso… esses são alguns animais adestráveis, diferentes da outra classe – quase infinita.
Para sintetizar, em meio a esse zoológico de conceitos surge uma dúvida: “qual é o melhor amigo do homem”?
De alto a baixo os polos se dividem, e haverá desde quem defenda ser o cão, até os que pregam que não há melhor companheiro do que o cavalo…
Para “domesticar” essa tese, coloquemos em evidência a profundidade filosófica da dúvida milenar mencionada.
O ser humano tem a necessidade de viver em conjunto, em grupos, em uma sociedade. Ele precisa conviver, ter amigos, pois possui um instinto de sociabilidade, como já Aristóteles dizia: “o homem é um animal social”.
E, uma vez que, por critério seletivo o ser humano tende a buscar a excelência da plenitude de seus anseios, a pergunta se precisa da forma mencionada: “qual é o melhor amigo”?
Obviamente, se o ser humano possui tão acentuadamente o instinto de sociabilidade, seria difícil conceber que ele se compraz satisfatoriamente apenas em conviver com um ser inferior a sua natureza, como um animal. Pelo contrário, as Escrituras Sagradas narram a necessidade de o homem estar com alguém que seja “carne da sua carne, osso dos seus ossos” (Cf. Gn 2, 23).
Ou seja, a primeira vista a questão se resolve: o ser humano é o melhor “amigo” do ser humano. Contudo, a pergunta se aprofunda ainda mais: “quem é meu melhor amigo?”
O livro do Eclesiástico nos dá uma pista: “Todo amigo diz: ‘Também eu sou amigo’, mas há amigo que só de nome é amigo” (Eclo 37, 1). E mais adiante: “Não te esqueças do amigo em teu coração, nem percas sua lembrança no meio de tuas riquezas” (Eclo 37, 6).
O assunto da verdadeira amizade atravessa os séculos e as latitudes de tal forma, que se encontra nos tesouros de sabedoria do antigo oriente a seguinte recomendação: “nunca troque um amigo velho por um amigo novo”.
Os livros sagrados continuam: “Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; não te apresses em confiar nele” (Eclo 6, 7). “Amigo fiel é refúgio seguro: quem o encontrou, encontrou um tesouro” (Eclo 6, 14).
Em contrapartida, vê-se Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda chamando de amigo aquele que o traía: “Amigo, com um beijo entregas o Filho do homem?” (Lc 22, 48).
Como Deus quer bem a todos! Ele é a bondade e não poderia querer outra coisa. Imagine-se como sofreu ao sentir seu Sagrado Coração que tanto amou os homens ser por eles tão pouco amado[1], odiado e até traspassado por uma lança!
A esse respeito, Monsenhor João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho comentou em certa homilia que uma das maiores dores de Nosso Senhor Jesus Cristo foi em sentir o choque de seu instinto de sociabilidade com a ingratidão dos filhos de Israel.[2]
Dessa forma, brota naturalmente a resposta da fonte de todas essas dúvidas. O melhor amigo é aquele que dá a vida pelo outro, como ensinou o Divino Mestre:
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13).
Aqui vem o ponto final. Nosso Senhor é o melhor amigo do gênero humano! “Aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se solidário com os homens. E, apresentando-se como simples homem, humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte da cruz” (Fl. 2, 7-8).
Que seu Sagrado Coração traga para bem perto de si a rebelde humanidade, pois viver sem seu olhar, existir sem sua luz seria o mesmo que… o mesmo que… viver sem ter um amigo, e: o melhor dos amigos…
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