Ano da fé: a Sagrada Liturgia

 

Caros amigos, no Ano da Fé somos convidados a estudar e meditar os documentos do Concílio Vaticano II, tempo de grande graça para toda a Igreja, cujos tesouros, infelizmente, são pouco conhecidos.

Muitas informações encontramos na internet sobre este esplêndido Concílio, que foi lugar privilegiado da Ação do Espírito Santo na vida e missão da Igreja. Infelizmente, entretanto, as interpretações nem sempre são fiéis à letra e ao espírito do Vaticano II.

Gostaria de começar nossa reflexão sobre o primeiro documento conciliar aprovado, a Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia.

Se queremos conhecer a motivação deste documento, basta ler o seu início. Diz assim: “O sagrado Concílio propõe-se fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo e fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja” (n.1).

De fato, a renovação litúrgica proposta pelo Concílio procura voltar às fontes mesmas da liturgia: a sagrada escritura, a tradição patrística e o sentir orante do povo cristão. Na sagrada liturgia acontece um verdadeiro intercâmbio de dons entre o céu e a terra: a glorificação de Deus e a santificação dos homens (cfr. SC 5). Não é, portanto, simplesmente uma expressão do sentir do homem, porque é Deus quem nos ensina como devemos rezar, nosso mestre e principal agente na liturgia é Jesus Cristo (cfr. SC, 7); entretanto, também não é pura linguagem divina ou angélica, porque a liturgia deve dizer algo aos homens e também ser veículo onde os homens se dirigem a Deus.

De fato, a vida dos fiéis cristãos, a necessidade dos tempos, a união de todos em Cristo e a evangelização são preocupação do ato litúrgico, que não pode ser impessoal, mas deve ser próximo dos homens e inflamado do amor de Deus. Isto não se concretiza na simples adaptação do rito aos fiéis que dele participam, mas que estes “celebrem a Liturgia com retidão de espírito, unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus” (SC, 11). Esta tarefa é mais difícil porque envolve a conversão dos corações, mas, como nos ensina o Concílio: “É desejo ardente da mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão” (SC, 14).

 
Dom Edney Gouvêa Mattoso – Bispo da Diocese de Nova Friburgo

Jornal “A voz da Serra” – 7/05/2013

(Artigo: “A voz do Pastor” – “Ano da fé: a Sagrada Liturgia”)