O Espírito Santo e a busca da felicidade
Onde encontrar a felicidade?
Analisando a nós mesmo e aos outros, podemos concluir que em tudo que fazemos, temos como fim, conquistar a felicidade. Quando trabalhamos, mesmo em algo que não gostamos, o fazemos para conseguir uma estabilidade ou pelo menos, adquirir o necessário para nossa subsistência. Quando tomamos uma medicação com um gosto amargo, não é por outro motivo a não ser para nos livrarmos da moléstia que prejudica nossa saúde, e ainda, mesmo se alguém entra pelo caminho do mal, este o faz, julgando que assim, será feliz.
Considerando que a felicidade é o “estado de perfeita satisfação íntima”[1] o que é preciso para obtê-la por inteiro?
Bem sabemos que “a vida é constituída pela presença da alma animando o corpo”[2]. De maneira que além da preocupação com o corpo, é preciso também atender a alma.
Facilmente identificamos o frio a sede ou a fome, no entanto, às vezes sentimos um vazio misterioso, nesse momento procuramos algo que possa nos satisfazer, mas não encontramos. De onde vem esse desejo profundo de algo desconhecido que parece ser uma sede insaciável? Isto não pertence ao corpo, mas sim, a alma. Suas necessidades são sobrenaturais e devem ser atendidas, caso contrário, não alcançaremos o estado de perfeita satisfação interior.
Uma vez que cada alma foi criada por Deus e para Deus, bem podemos dizer: da mesma forma que as plantas possuem a heliotropia (do grego helios, sol + tropeo, virar) a alma humana possui a Teotropia, ( do grego Theos, Deus+ tropeo, virar), por isso exclama Tertuliano: “Ó testemunho das almas, naturalmente cristãs”[3]. Sendo assim, somente Deus pode preencher esse espaço interior. Uma sede infinita, só será saciada com o Infinito. “Se alguém tiver sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: ‘do seu interior correrão rios de água viva’. Referia-se ao Espírito que haviam de receber aqueles que cressem nele”( Jo 7, 37-39).
Aí está a resposta. O Espírito Santo pode preencher este vazio interior!
Pentecostes
No dia de Pentecostes, a Igreja comemora a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os apóstolos reunidos no cenáculo, que se deu cinquenta dias após a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vejamos um pouco o poder transformador do Espírito Santo, o quanto podemos ser auxiliados por Ele a cumprir nossa vocação alcançando a felicidade.
Após a morte de Nosso Senhor, “os discípulos se encontravam em casa com as portas fechadas, por medo dos judeus”( Cf. Jo 20, 19). A insegurança era tamanha, que, após a constatação de Pedro e João sobre a ausência do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo na sepultura, os apóstolos não ficaram alegres com a ideia da ressurreição, mas sim preocupados com a medida que tomaria o Sinédrio à respeito do caso. Mesmo quando apareceu Nosso Senhor em seu meio, ficaram eles receosos de que fosse um fantasma a ponto de precisarem receber do Divino Mestre uma prova. Já convencidos da ressurreição, os apóstolos estavam mais preocupados com a restauração do reino de Israel do que com a missão de pregar o evangelho: “por acaso será agora que vais restabelecer o reino de Israel?” (At 1,6). Esses eram os apóstolos antes de Pentecostes.
“Com a vinda do Espírito Santo já estavam transformados e eram superiores a tudo o que fosse corpóreo. Ali mesmo a assistência do Espírito Santo converte em ouro o que era barro. […] E é admirável que os apóstolos saem a combater como desnudos frente a frente a adversários armados, contra príncipes detentores da autoridade sobre eles; aqueles que não tinham eloquência e eram ignorantes enfrentam impostores, charlatões e uma multidão de sofistas, retóricos e filósofos peripatéticos corrompidos da Academia”.[4]
Receber o Espírito Santo está ao alcance de todo homem. Pela ação da graça santificante que se obtém no batismo, o homem tornando-se “pleno de fé, esperança e caridade, adquire uma profunda compreensão dos panoramas sobrenaturais, o que se reflete depois no empenho em fazer o bem e em se entregar, se for preciso, a um verdadeiro holocausto em favor dos outros. Tal é a vida da graça, mantida, desenvolvida e robustecida pela ação do Espírito Paráclito”[5]. Santo Agostinho comenta: “O Deus-Amor é o Espírito Santo. Quando este Espírito, Deus de Deus, se dá ao homem, inflama-o de amor a Deus e ao próximo, pois Ele é amor”[6].
O poder transformador do Espírito Santo
O poder que transformou os apóstolos medrosos e covardes em heróis valentes e ousados a ponto de nenhuma ameaça os intimidar na proclamação da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, é capaz de transformar um pecador, por pior que seja, em um grande santo com um esplendor semelhante ao dos Anjos. Exemplo disso foi Santa Maria Madalena, que tendo vivido pelas vias tortuosas da impureza, converteu-se, mas, infelizmente, tornou a cair no pecado, porém novamente levantou-se com confiança, e arrependida retornou a casa paterna e sua alma recebeu uma luz de pureza tal que a fez tornar-se digna de ser nomeada na Ladainha de Todos os Santos em primeiro lugar junto às virgens. Tal é a força transformadora do Espírito Santo. Após cometermos alguma falta, não devemos recear a misericórdia Divina, pois esta nunca falta, se a imploramos, indubitavelmente seremos atendidos e limpos de nossas culpas.
Como a roupa reveste o corpo, o Espírito Santo reveste o interior transformando-nos por dentro aponto de podermos dizer como o apóstolo “eu vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim”( Gal 2,20). A sociedade e a família são formadas por indivíduos, se estes seguem os conselhos do Espírito de Deus, podemos afirmar que encontraram a felicidade, uma vez que estão dispostos a superar reciprocamente os defeitos: “deixai de lado todas estas coisas: ira, raiva, maldade, maledicência e palavras obscenas. Não vos enganeis uns aos outros, pois já vos despojastes do homem velho com todas as suas obras, e vestistes o novo que se vai renovando no sentido do verdadeiro conhecimento segundo a imagem de quem o criou. Então não haverá nem judeu nem grego, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo que será tudo em todos” (Col 3, 8-11).
Deixar-se conduzir docemente pelo Paráclito
A ação do Paráclito é suave e constante, se não colocamos obstáculos, tudo Ele realiza em nós. “A moção dos dons não mais pertence ao homem, mas ao Divino Espírito Santo como causa única. Da mesma forma como seria imperioso para a criança que ganhara um avião de passageiros o concurso de um piloto experimentado para levantar a imensa máquina do solo, Deus, ao infundir os dons em nossa alma, se faz nosso condutor, pondo à nossa disposição um auxílio oportuníssimo para suprir nossa incapacidade no governo de um organismo sobrenatural que nos supera ao infinito. A alma apenas precisa deixar-se levar…
Para compreender melhor o desempenho das virtudes na alma, lembremo-nos da clássica figura da criança que caminha de mãos dadas com sua mãe: sem dúvida alguma quem avança é o menino, sujeito à inexperiência de sua tenra idade e sustentado pelo amparo materno. Muito diferente seria se a mãe, receosa dos perigos a que se expõe o frágil filho andando por si, o tomasse no colo. O esforço do deslocamento passaria a depender unicamente da vontade dela, e já não mais das pernas pouco ágeis do pequeno. Esta segunda situação é uma pálida imagem da ação benfazeja dos dons. O Espírito Santo nos ‘carrega no colo’, ‘sublimando mediante suas iluminações e moções especialíssimas, nosso próprio modo de pensar, querer e agir’(PHILIPON, OP, Marie-Michel.Los dones del Espírito Santo. Barcelona: Balmes, 1966, p.160) , protegendo-nos de todas as ameaças que nos circundam durante a vida”[7].
O Divino Espírito Santo está à disposição de cada um de nós, pronto a nos orientar no que for preciso, e para tanto pede de nós uma única coisa de grande simplicidade: que sejamos ardorosos cumpridores dos mandamentos, piedosos e constantes nas nossas orações, então veremos o quanto nossas atitudes serão impulsionadas por inspiração divina e não meramente nos sentimentos humanos. Eis a solução de todos os nossos problemas, a chave da nossa felicidade!
[1] LARROUSSE, 1995, p. 2380
[2] DIAS, João S. Clá. O inédito sobre os Evangelhos. Cidade do Vaticano: Livraria Editora Vaticana, 2012. Vol. V, p. 379.
[3] TERTULIANO. Apologeticu, XVII: ML 1, 377.
[4] SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homiliœ in Acta Apostolorum, hom. IV, n.3: MG 60, 46-47.
[5] DIAS, João S. Clá. Op. Cit. Vol. V, p. 385.
[6] SANTO AGOSTINHO. De Trinitate. L.XV, c.17, n.31 In: Obras. .ed.Madrid: BAC, 1968, v.V, p.176
[7] DIAS, João S. Clá. Op. Cit. Vol. V, p. 388.
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