Os sinos de Notre Dame – II

O Batismo do sino

 

“Em honra de São Miguel, a paz doravante esteja contigo, caro sino”.

Com essa “despedida” finaliza-se a cerimônia de batismo do sino.

A Igreja Católica possui a interessante característica de tomar os mais comuns objetos e eventos da vida e sacralizá-los. Fazendo assim com que seus fiéis possam vislumbrar um pouquinho do que será a realidade que viverão no céu. Sem contar que como boa mãe, dá exemplo a seus filhos, pois constantemente nos mostra quão necessário é elevarmos nossos olhos às coisas celestes, sacralizando, a seu exemplo, nossos atos cotidianos.

A cerimônia de Batismo ou bênção do sino, era, outrora, reservada à pessoa do bispo diocesano, podendo atualmente, após a reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, também ser celebrada pelos sacerdotes.

O Código de Direito Canônico sinaliza: “É conveniente que haja em cada Igreja um ou mais sinos para convocar os fiéis aos ofícios divinos e outros atos religiosos. E estes sinos das igrejas devem ser consagrados ou benzidos segundo os ritos que se encontram nos livros litúrgicos aprovados”. (Codex Iuris Canonicis, cânon 1169 art. 1 e 2 do Pontifical Romano)

 

Cerimônia

 

Essa cerimônia segue um rito próprio, presente no Pontifical Romano, um livro litúrgico de referência para as cerimônias da Igreja.

Segue a descrição de como era realizado o batismo:

Em um ato solene, com a presença dos fiéis, suspenso a alguns metros acima do solo estava ele, o sino. Em uma mesa próxima observa-se alguns elementos, a água, o sal, os santos óleos, o incenso, a mirra e um turíbulo aceso.

Em pé, vestido com trajes solenes, o bispo, acompanhado do clero e do padrinho e madrinha do sino. Depois de serem entoados alguns salmos o celebrante abençoava a água e aspergia o sino, outorgando-lhe o poder e a missão de afastar, em todos os lugares onde seu som ressoasse, a presença do demônio e de outros seres que tivessem como finalidade fazer o mal aos homens: os raios, tempestades, granizo, animais peçonhentos  etc.

Transcorrida essa etapa, os diáconos o lavavam com água benta, por dentro e por fora, após o qual o enxugavam.

Seguia-se a unção com os óleos sagrados, feitas pelo bispo no sino em forma de cruz: sete na parte exterior, utilizando o óleo dos enfermos, para simbolizar os sofrimentos e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e quatro no interior, com o óleo do Crisma, com o intuito de representar a Ressurreição de Cristo, que com seu corpo glorioso possuía as quatro qualidades dos corpos gloriosos, enumeradas segundo São Tomás de Aquino: agilidade, claridade, sutileza e impassibilidade.

O nome do sino era dado pelos padrinhos, e deveria necessariamente ser o de um Bem-Aventurado do céu. Uma vez escolhido o nome, por exemplo, São Miguel, o bispo dirigia-se ao sino dizendo: “Em honra de São Miguel, a paz doravante esteja contigo, caro sino”.

Finalizando a cerimônia, era proclamado o evangelho de São Lucas (10, 38-42) que narra o episódio de Marta e Maria… como tudo na Igreja… mais um simbolismo, lembrar aos fiéis que,  esse sino ao tocar, reafirma  as palavras de Jesus às duas irmãs do Evangelho: É preciso ter a vida ativa de Marta, mas não descuidar da contemplativa de Maria.