O “Jeitinho”

 

                        Hoje o blog Arautos Nova Friburgo apresenta algo diferente, pois com o acréscimo de atividades no quase fim do semestre a equipe redatora se viu numa situação um tanto complicada. Mas para não deixar nossos leitores sem os costumeiros artigos resolvemos dar um jeito… não, melhor dizendo:  um “jeitinho”.

                        Em cada povo se nota uma particularidade no momento em que se depara com algum problema, seja ele fácil ou, por vezes, difícil. Entretanto há problemas que se apresentam de forma imprevisível deixando as pessoas em situações complicadas. Diversificada é a solução que cada povo terá para esses imprevistos tão comuns ao longo da vida. Em povos anglo-saxões se tentará ao máximo prever e se preparar para esses episódios. Com os latinos nem sempre é assim!

                        No átrio do nosso querido Brasil se encontra o modo mais comum de resolver esses inesperados problemas: o jeitinho. Bem comum é encontrar entre o povo brasileiro a expressão: “há, isso agente dá um jeitinho”. De tal maneira a expressão entrou em nosso dia a dia que raramente se analisa o que ela significa e em que circunstâncias ela pode ser utilizada ou não. É quase natural no espírito e parece que já está no sangue, ou nas nossas raízes.

Mas o que é o jeitinho brasileiro? Como definir algo que é tão corriqueiro entre nós? O jornal francês Le Monde procurou definir: “Uma hábil solução, frequentemente de última hora que não acalma necessariamente os nervos, mas que retrospectivamente torna sem razão de ser a angústia dos neófitos”[1].

                        Bem precisa é essa afirmação, entretanto nada melhor que ter a definição de um brasileiro, o professor Plínio Corrêa de Oliveira, que não somente entendeu, mas tem na vida exemplos e formas de apresentar essa qualidade: “um modo de manusear as coisas de maneira que elas se tornem macias, se tornem fáceis e com esforço relativamente pequeno de modo a conseguir o efeito que se visa por onde se não se tivesse o jeitinho não se obteria ou faria muito esforço para obter”[2].

                        Prof. Plínio ainda nos conta um fato que bem expressa o que é o jeitinho nas situações práticas: “Estive prestando atenção na conduta do motorista durante todo o percurso. Ele tinha nos vários dedos da mão diversas notas de diferentes valores. Sua mão era, assim, uma classificadora de notas em que já as punha todas dobradas de tal maneira que, quando precisava dar o troco ao passageiro, num instante o executava. Com a mesma mão, cheia de notas, mandava o trânsito parar, manobrava, e não caía uma só nota da mão dele. Depois, com essa mão carregada de notas, guiava o veículo à toda velocidade. E ainda fazia isso fumando um pouquinho e olhando o que se passava na rua com interesse”[3].

                        Um ponto a ressaltar a respeito desse modo de ser e que é um reflexo de uma virtude que nos brasileiros se sobressai, é a bondade. Assim através do jeitinho se busca a harmonia entre as pessoas e aí entra a bondade, essa qualidade que é totalizada em todo o país.

                        Mas a origem do jeitinho encontra-se muito antes do descobrimento do Brasil. No Evangelho de São João encontramos o primeiro milagre de Nosso Senhor nas bodas de Caná. Comemorava-se uma festa de casamento onde Jesus, Maria Santíssima e alguns discípulos se encontravam. No auge da festa Nossa Senhora percebe que acabou o vinho e em sua bondade, prevendo a situação desagradável dos anfitriões dá um jeitinho. Aproxima-se de Nosso Senhor e diz: “Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 3). Com isso ela antecipa o início dos milagres de Nosso Senhor e bem pode ser tomada pelos brasileiros como a Padroeira dos jeitinhos.


[1] DENIS, Hautin Guiraut. La conference de Rio sur l’environnement. Um retour au passé… In: Le Monde.Paris: 3 jun. 1992

[2] OLIVEIRA, Plínio Correa de (Conferência 24/09/1994).

[3] OLIVEIRA, Plínio Correa de (“Catolicismo”, nº 501, setembro de 1992).