Fins e Frutos da Missa

Para que alguém possa saborear uma deliciosa laranja são necessárias algumas ações. Em primeiro lugar da parte da laranjeira, produzindo o almejado fruto; em segundo lugar da parte de quem vai saborear a laranja, colhendo-a da árvore e, posteriormente, descascando-a. Portanto há uma primeira ação que depende da árvore e uma segunda que depende de quem será beneficiado com o consumo da fruta.

De maneira análoga quem participa da celebração da Missa pode beneficiar-se de seus “frutos” seguindo o que foi descrito anteriormente.

Explico-me:

A Missa é a renovação sacramental, realizada de modo incruento (sem derramamento de sangue) do único e supremo sacrifício do Salvador na cruz de modo cruento (com derramamento de sangue). O Concílio Vaticano II ensina que: “O nosso Salvador na última ceia instituiu o sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue para perpetuar o sacrifício da cruz através dos séculos até a sua volta, e para confiar à Igreja, sua esposa muito amada, o memorial de sua morte e ressurreição” (Sacrosanctum concilium, 47). Por consequência a Missa é ao mesmo tempo sacrifício latrêutico ou de adoração, eucarístico ou de ação de graças, propiciatório ou de desagravo dos pecados e impetratório ou de petição dos bens sobrenaturais e naturais como realizado no Calvário. Estes são os “fins da Missa”. (Cf. Moliné, Enric. Los siete sacramentos, p. 83).

O sacrifício de louvor ou de adoração e a ação de graças são fins que se referem diretamente a Deus, portanto atingem sempre de modo pleno a sua finalidade, independente da devoção de quem celebra a Missa ou mesmo da atenção de quem a assista. Conforme São Tomás, este sacrifício agrada mais a Deus do que o ofendem todos os pecados da humanidade (Suma Teológica, III, q.48, a.2). Isto se dá pelo fato de ser o próprio Cristo o Sacerdote principal da Missa e ao mesmo tempo a Vítima Suprema que se oferece a cada celebração.

Os outros dois fins, impetratório (a obtenção do que pedimos) e propiciatório (a reconciliação com Deus), são revertidos em favor dos homens. A estes se dá o nome de “frutos da Missa”. Por sua vez esses “frutos”, para serem obtidos, dependem das disposições pessoais de quem assiste o sacrifício do altar. Apesar de que também se baseiam nos méritos de Cristo que, portanto, poderiam obter o que pedimos de modo infinito, os “frutos da Missa” necessitam, para serem obtidos, de nossa colaboração, infelizmente, sempre deficitária, razão pela qual não se recebe de modo pleno o que se pede.

Daí a razão pela qual: “A Igreja procura, solícita e cuidadosamente, que os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos ou expectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, piedosa e ativamente, por meio de uma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos na palavra de Deus; alimentem-se na mesa do corpo do Senhor. Para chegar a essa eficácia plena, é necessário que os fiéis se acerquem da sagrada liturgia com disposições de reta intenção, adaptem a mente às palavras, e cooperem com a graça divina para não recebê-la em vão” (Sacrosanctum concilium, 48 e 11).

Esses “frutos” são aplicados de quatro modos distintos: Geral, pela Comunhão dos Santos, ou seja, todos os batizados na graça de Deus recebem, de alguma forma, as graças de todas as Missas; Especial, na qual aproveitam os assistentes da Missa; Especialíssimo, na qual aproveita o sacerdote celebrante da Missa; Ministerial, na qual aproveitam aqueles por quem se oferece a Missa. (Cf. Moliné, Enric. Los siete sacramentos, p. 85).

Como podemos comprovar a Igreja faz o papel da árvore bendita da qual pendem preciosos frutos. Para colhermos e nos beneficiarmos destes frutos é preciso a nossa participação atenta e devota no Santo Sacrifício do Altar.