O que é a conversa?

À primeira vista, a pergunta pode até parecer estranha. Pois, afinal de contas, dirá alguém que “conversar é falar!” Quem assim respondesse já poderia, de imediato, ser tachado de alguém “sem assunto” pela simplicidade de sua resposta. Por quê? Propositadamente, deixamos esta pergunta ainda em aberto.

É bem possível que o leitor que agora corre os olhos sobre este post já tenha observado como em muitos círculos familiares “de conversa”, falta assunto, mesmo sendo tão fácil “falar”. A importância desse assunto toma maior vulto se considerarmos que o primeiro instrumento do relacionamento social é a conversa.

São Paulo nos diz: “Fides ex auditu” (Rm 10, 17)— a Fé nos vem pelo ouvido. Quer dizer, pela voz humana; sobretudo, pela conversa. É conversando que se instrui, forma, declara, afirma, proclama. Tomando-se em conta o mundo dos sentidos, é pela voz que o melhor da ação da graça penetra em nossas almas. Portanto, pela conversa.

Na procura desse objetivo, é preciso ter em vista que a conversa supõe uma primeira disposição de espírito, sem a qual ela não existe: devemos nos interessar pelos outros para saber conversar. Se o indivíduo é um egoísta, preocupando-se apenas consigo mesmo, não despertará o interesse de ninguém. Há um saboroso ditado francês que afirma: “Se quero reter meu visitante, falo sobre ele; se quero que ele saia logo, falo sobre mim”. Essa é a chave da boa conversa: saber entreter o outro sobre ele próprio, dando-lhe a impressão de que não existimos, como se nos esquecêssemos de nós permanecendo inteiramente tomados pelo tema que lhe diz respeito. Além disso, demonstrando grande atenção por ele, empenho em que entenda bem e goste da conversa.

 

Um fato muito pitoresco que se deu no Ancien Régime, período este considerado de ouro na arte de conversar, pode ilustrar bem:

 

Conta-se que estando certa vez Talleyrand em uma festa, notou que uma senhora estava sozinha num canto do imenso salão. Inquiriu com alguns amigos a razão disso, e um deles respondeu-lhe:

— Ah, ninguém consegue conversar com ela!

— Por quê? – indagou Talleyrand.

— Ela não sabe conversar! Vários de nós já tentamos, mas depois de iniciada a conversa, ela morre…

Talleyrand disse que com ele isso não seria assim e muito respeitosamente aproximou-se da senhora, fez uma reverência e cumprimentou-a.

No outro lado do salão, os amigos de Talleyrand observavam curiosos o que iria acontecer. Durante um minuto perceberam que apenas Talleyrand era quem falava.

Entretanto, para espanto de todos os que observavam a cena, viram que a senhora sorriu um pouco e começou a conversar de um modo como nunca tinham visto, e assim foi até o fim da festa.

Perguntado por seus amigos como conseguira semelhante proeza, Talleyrand respondeu:

— É muito simples, ela possui em sua propriedade uma grande criação de galinhas. Perguntei-lhe quais são os segredos e os cuidados da avicultura. Ela contou-me tudo, com luxos de detalhes. Depois conversamos sobre a sua terra natal e outros assuntos do gênero.

— Mas foi sobre isso que conversaram?! – perguntou um nobre com certa acidez.

— Meu amigo, com isso proporcionei a uma digna senhora uma noite agradável. E o que é a conversa, senão a arte de agradar?

A esta altura já vemos que a resposta à nossa pergunta já se encontra respondida e que a conversa não é um mero falar, mas fazê-la com pensamento, profundidade e boa intenção. Então, ao nos prepararmos para o contato com uma determinada pessoa, com a qual procuraremos desenvolver uma boa conversa para lhe fazer bem, comecemos por nos perguntar se nossa atenção está mais voltada para ela do que para nós mesmos. Portanto, neste “Ano da Fé” a conversa é um excelente meio de evangelização. Cumpre saber conversar, cumpre saber agradar, para saber evangelizar…