Quanto vale sua alma?

 

Fique tranquilo. Não se trata de um cartaz ocultista ou de um chavão ordinário para atrair leitores. O presente artigo discorrerá brevemente sobre o que se sabe sobre o valor da alma humana.

Para os materialistas, tudo nesta terra tem um preço, um valor. É certo pensar deste modo? Não e sim.

Deus ao criar o universo não o fez igual. Santo Tomás de Aquino na célebre “Suma Teológica”, comenta que a ordem da criação possui um caráter de diversidade e ao mesmo tempo de unidade. A variedade das criaturas, a diferença entre as naturezas e, em específico nos seus gêneros, é a proclamação de como tudo que Deus cria nunca é igual.

De outro lado, quem analisa o universo criado como um todo, pode perceber uma unidade sobretudo no sentido de não haver outra obra da criação para se comparar com a que existe, e assim, não haver ponto de comparação de maneira a gerar uma diferença.

Assim, nota-se que a moeda possui verso e reverso fazendo saltar aos olhos uma realidade que começa a nos tanger mais de perto.

O ser humano sendo um ente que possui corpo e alma, de um lado tem também uma unidade em relação aos demais seres e, ao mesmo tempo uma diversidade no referente ao próprio gênero pois, basta conhecer qualquer pessoa para um indivíduo notar que não se trata apenas de ter “dois olhos” para se ser igual a outrem. Modo de ser, gostos, preferências, enfim, ainda sem se adentrar no “reino genético” é possível comprovar o óbvio deste enunciado.

Desse modo, “como diria o Conselheiro Acácio”, se as coisas diferem em algum ponto, seu valor não pode ser igual. Não é preciso de provas para fazer notar a qualquer um que um carvão não vale o mesmo que um diamante. Mas, se no reino mineral é possível distinguir o grau de preciosidade e definir o valor de uma pedra, será possível o mesmo se dar entre os homens? É possível alguém valer algo?

Conta uma lenda que um dia Carlos Magno, o monarca do Império Romano-Alemão, fez a um súdito seu, para prová-lo, uma pergunta: “Quanto valho eu em dinheiro”?

Para se ver bem saído de tão difícil enigma, após muito pensar, este respondeu: “Se Nosso Senhor Jesus Cristo que é o Rei dos reis foi vendido por 30 moedas de prata, o senhor, sendo seu fiel discípulo vale justas 29”.

Pode-se imaginar a reação e satisfação de Carlos Magno ao ver tamanha fidelidade em seu servo.

Isso posto, a pergunta ainda não se resolve: quanto vale a alma humana?

A resposta se entrevê nestas palavras: “Façamos o homem à Nossa imagem e semelhança”. Nelas, Deus expressa todas as formosuras do homem, e ao mesmo tempo todas as riqueza que lhe deu com sua graça: entendimento, retidão, inocência, conhecimento claro de Deus, amor infuso deste Ser, e segurança de gozar com Ele a mesma felicidade.

São Pedro Crisólogo exclama: “ó homem, por que, sendo tão honrado por Deus, te desonras? Por que és tão vil a teus olhos, tu que és tão grande e precioso aos olhos de Deus? Não vês que desonrar‑te é desonrar a Deus, de Quem és imagem?”[1]

Formoso é o sol – diz o Pe. Cornélio a Lapide – mas não custou o sangue de Jesus Cristo. Ricas em esplendor são a lua e as estrelas; mas nenhuma delas custou o sangue de Jesus Cristo. A terra e os mares muitíssimo valem, mas não deu Jesus Cristo seu sangue por eles. Unicamente o homem custou o sangue de Deus. Jesus Cristo morreu apenas pelo homem.

Tão grande e nobre é o homem que todo o ouro, todo o dinheiro do mundo e todo o universo não vale o que ele vale. Não se encontrou um preço digno do homem entre as criaturas, nem no mundo inteiro. Encontrou‑se, porém, no sangue de um Deus. Se colocardes numa balança o Sangue de Jesus Cristo de um lado, e de outro o homem, o peso do homem equilibra‑se (vacila) com o Sangue de Jesus Cristo. E se é impossível avaliar o sangue de um Deus, é também impossível aquilatar o valor do homem. Se quereis que vos diga o que valeis, dizei‑me antes o que vale o Sangue de Jesus Cristo…


[1] ) Tesoros de Cornelio a Lapide, Pe.Barbier, pp.470‑1.