A sacralidade da Liturgia

A Santa Missa, que é o memorial do sacrifício redentor de Cristo traz em si mesmo os traços daquela beleza de Jesus testemunhada por Pedro, Tiago e João, quando o Mestre, a caminho de Jerusalém, quis transfigurar-Se diante deles (Mc 9, 2).  Portanto, a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à ação litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza (Cf. Sacramentum Caritatis nº 35).

Como sabemos, comenta Dom Alberto Sanguinetti Montero[1], o caráter sagrado e único da Santa Missa provém do fato de ser um ato de nosso Senhor Jesus Cristo, de seu senhorio sobre toda a criação. Ele nos faz criaturas novas, nos eleva pela graça ao culto do Pai em espírito e verdade, nos faz partícipes da vida eterna e nos introduz na Jerusalém do céu. O fim último da Missa é a glorificação do Pai: por Cristo, com Ele e n’Ele, em um mesmo Espírito, damos ao Pai toda honra e toda glória. Criados livres, não vivemos para nós mesmos, senão para louvar, servir e adorar a Deus.

Esta novidade de ser e vida que Cristo dá a seu povo faz com que a Igreja gere para sua liturgia sua própria cultura, que provém das Sagradas Escrituras e da Tradição. A Igreja se expressa nas formas próprias que vai modelando com a inspiração do Espírito: a música sacra, o espaço eclesial, as posturas religiosas, a dignidade dos gestos, a beleza de sua arte, para significar e introduzir na grandeza do mistério e na realidade de estar no céu com o coração ao alto para o Senhor, para afiançar o sentido religioso do santo temor de Deus e a reverência ante a Majestade Divina. Por isso disse Bento XVI: “A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra” (Sacramentum Caritatis, nº 35).

Nesta ordem de coisas, também deve apreciar-se o valor do canto verdadeiramente litúrgico. “Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo — no texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos” (Sacramentum Caritatis, nº 42).

Que o mesmo Espírito Santo nos torne mais de acordo com a Liturgia da Santa Missa que Ele inspirou na Igreja. Que no dê abundantemente o dom da piedade para nos aproximarmos deste grande mistério e celebrá-lo com unção. Que Ele, óleo de alegria, nos outorgue a verdadeira alegria que Cristo nos trouxe, para que nosso gozo seja completo.

Que a Mãe de Deus, nos atraia para seu Filho e seu sacrifício e para o amor do Pai (cf. Lumen Gentium, nº 65). Que seu Coração Imaculado nos modele para receber incondicionalmente o dom de Jesus na Eucaristia e para nos unirmos a sua oferenda perfeita.


[1] Carta de Dom Alberto Sanguinetti Montero, Obispo de Canelones (Uruguay), sobre la Santa Misa.