O primeiro mergulhador

Conhecer as profundezas dos mares e dos rios sempre foi um desejo dos homens, mas para realizar este almejado objetivo, foi necessária a promoção de inúmeras pesquisas e estudos até se obter um método seguro e tranquilo de mergulho.

Mas alguém sabe quem foi o primeiro homem a permanecer um longo tempo submerso sem se afogar?

Para nossa surpresa foi um sacerdote, e em terras brasileiras.

Corria o ano de 1554, o beato José de Anchieta não cessava de fazer o bem levando aos mais distantes rincões da terra de Santa Cruz, a Boa Nova do Verbo de Deus Encarnado.

E eis que ocorreu o inesperado mergulho como nos narra o Padre Hélio Abranches Viotti, S.J.

Além de aclimatar os novos cristãos na Vila de São Paulo (um dos grandes obstáculos à catequese era o nomadismo), Anchieta salvou-os mais de uma vez da sanha inimiga. Certa ocasião, os portugueses se infiltraram entre os tupiniquins do Anhembi, instigando-os à destruição da Vila. Cônscio de que somente sua intervenção pessoal poderia evitar o massacre, Anchieta preparou uma pequena expedição para ir ter com os selvagens revoltados. As exortações do missionário e particularmente um fato miraculoso ocorrido durante a viagem, restabeleceram as pazes.

No local onde o rio Anhembi forma uma cachoeira que recebeu o nome de Avaremanduava, termo que significa “em memória do padre” os remadores não lograram conduzir a canoa por entre as pedras. Em fração de segundos a frágil embarcação despencou cachoeira abaixo.

Calcula o Padre Vicente Rodrigues que o rio, nesse ponto, teria de 15 a 18 metros de profundidade. Os índios, hábeis nadadores, vieram logo à tona, bem como os demais viajantes. Passados alguns instantes, notaram a falta do Padre Anchieta. Mergulhou o índio Araguaçu por duas vezes ao fundo do rio tentando localizar o corpo do servo de Deus. Na segunda vez conseguiu trazê-lo à superfície, escorrendo água e sem a menor lesão, “Perguntou lhe o Pe. Vicente Rodrigues como se houvera tanto tempo debaixo d’água. Respondeu que em três coisas andara ocupado: a primeira na Virgem Senhora (o grande missionário vinha rezando o ofício da Imaculada Conceição); e a segunda, não pegar no índio a não ser quando ele pudesse tirá-lo da água, e a terceira em não beber água” [1].

Quanto tempo terá permanecido o Padre Anchieta sob a água? Segundo o depoimento de um dos seus companheiros de viagem, Baltasar Fernandes, o Jesuíta taumaturgo teria ficado debaixo d’água “além de meia hora”. O Padre Pero Rodrigues fala em “obra de meia hora”. Meia hora, pouco mais ou menos, o importante é que a Providência realizou o milagre, para confundir os incrédulos e converter os índios, realizando sem dificuldades o que a humanidade levou séculos para alcançar.


[1] “Imagem de Coimbra”, II, 209, apud Pe. Hélio Abranches Viotti, S.J., “Anchieta, o Apóstolo do Brasil”