México Mártir: a morte vencedora
Corriam os idos anos de 1926, época em que no México a paz valia mais do que o petróleo que até hoje brota nesta nação, pois, em um país em que os católicos totalizavam 97%, em pleno século XX, fazia curso uma perseguição “neroniana” contra os cristãos.
O presidente Elias Plutarco Calles punha em pleno vigor as medidas anticatólicas de Carranza, político que governou o país dois mandatos antes de Calles.[1]
Em muitas cidades do México os católicos eram perseguidos e martirizados das maneiras mais cruéis, fazendo lembrar os espetáculos dados no Coliseu quando o império romano ainda estava desorientado das verdades eternas.
Foi assim que aos 22 de setembro de 1926, dois jovens – e depois um terceiro – respingaram novas rosas vermelhas no meio do jardim florido: Joaquim Silva de 27 anos e Manuel Melgarejo de apenas 17.
O caso ocorreu quando esses filhos da Igreja foram apanhados por espiões da CROM – polícia secreta do presidente – pois nessa época, praticar a religião era crime.
Após serem presos, os dois mártires foram encaminhadas para o suplício, escoltados por militares e rezando o terço. O espetáculo comovedor não parece ter tocado o coração de um oficial que tentou arrancar-lhes os terços. Teve, porém, a resposta que merecia:
– Alto lá! Disse Joaquim, enquanto estivermos vivos, ninguém ousará tirar-nos o terço.
A outro que lhes perguntava em tom de deboche se iam ao patíbulo, o mesmo respondeu-lhe:
– Não. Vamos ao Calvário, enquanto aguardamos a nossa e a vossa ressurreição.
Chegando ao lugar marcado, quiseram vedar-lhes os olhos; ao que eles se recusaram cortesmente:
– Não somos criminosos, nem tememos a morte. Eu mesmo darei o sinal de atirar. Quando gritar “Viva Cristo Rei, Viva a Virgem de Guadalupe”, então atirem.
Ante o pelotão, Joaquim Silva improvisou uma oração transbordante de sentimentos religiosos e patrióticos. A graça foi tal, que muitos dentre os soldados comoveram-se e outros afastaram-se. Um deles jogou a arma no chão e gritou:
– Não atiro mais. Eu também sou católico e partilho dos sentimentos desses dois. Viva Cristo Rei! E assim dizendo, abraçou o companheiro Mártir e colocou-se a seu lado.
Satisfeito com a conquista desta alma no próprio campo da honra, Joaquim ordenou aos companheiros:
– Ajoelhamo-nos e tiremos o chapéu, pois estamos para comparecer ao Tribunal de Deus.
Rezaram uns poucos instantes, depois levantaram-se e, a uma só voz, os três lançaram o grito de vitória: “Viva Cristo Rei”, “Viva a Virgem de Guadalupe”.
Contudo, a revoada de anjos e a potência que a definição do bem emana fez com que tivessem que chamar outro pelotão para executá-los… [2]
Depois do martírio, os três foram expostos ao público no cemitério, com o terço ainda na mão. Seus corpos tiveram as honras dos mártires e seus sepulcros tornaram-se gloriosos. Inclusive contam-se prodígios e verdadeiros milagres alcançados por intercessão deles e o próprio Papa Pio XI dignou-se evocá-los em sua Encíclica Iniquis afflictisque:
“Alguns desses jovens (e ao recordá-los mal podemos conter as lágrimas) encontraram voluntariamente a morte, tendo nas mãos o rosário e nos lábios a invocação a Cristo Rei”[3]. A morte desses gigantes da fé vence os maus e conquista para Deus novos heróis e mais uma vez a humanidade pode dizer: “Salvete flores Martyrum”[4].
[1] FACIUS, Ríus. Méjico cristero; historia de la Asociación Católica de la Juventud Mejicana, 1925-1931.
[2] Cf. ZILIANI, Luis. México Mártir. Edições Paulinas, São Paulo: 1950. p. 142
[3] Encíclica Iniquis afflictisque do Papa Pio XI, datada de 18 de novembro de 1926.
[4] Do latim: “Nós vos saudamos, flores dos Mártires”.
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