Beatificada Maria Cristina de Saboia
rainha de coração
Também uma rainha pode viver com heroísmo as virtudes cristãs se se deixar transformar pela graça divina. Afirmou o cardeal Ângelo Amanto, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, presidindo ao rito de beatificação de Maria Cristina de Saboia – na manhã de sábado, 25 de janeiro, na basílica de Santa Clara em Nápoles – em representação do Papa Francisco. A missa foi celebrada pelo cardeal arcebispo Crescenzio Sepe.
A beatificação da rainha, que foi esposa de Fernando II de Bourbon, disse o cardeal, “mostra que a porta estreita da santidade pode ser cruzada por todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, homens e mulheres, sacerdotes e leigos, porque a essência da santidade consiste em amar a Deus e ao próximo com todas as próprias forças”. A nova beata foi “conquistada pelo amor de Cristo”, a ponto de transformar “a nobreza da classe em nobreza da graça, tornando-se uma autêntica rainha da caridade”. Com efeito, soube transformar a sua riqueza “num talento a ser investido no reino dos céus”. Neste sentido, a sua dignidade real “não foi um impedimento, mas um degrau para se elevar com agilidade juvenil até ao topo da escada da perfeição evangélica”. Maria Cristina, no apogeu do prestígio social, viveu com heroísmo a fé, a esperança e a caridade, porque – recordou o purpurado – transformou “este seu dote espiritual num recurso para socorrer os necessitados: dar de comer e de beber aos famintos e aos sedentos; aliviar os sofrimentos dos presos; visitar e consolar os doentes”.
O povo napolitano, que “tem um sentido sofisticado para reconhecer os santos à primeira vista”, logo depois de ter encontrado esta “soberana jovem e atraente, de olhar luminoso e manso, foi tão conquistado pela sua bondade materna a ponto de chamá-la imediatamente a ‘pequena rainha santa’”. De fato, “mesmo podendo viver no luxo”, recordou o cardeal, “mortificava-se na comida e na diversão de corte”, de tal forma que quando acompanhava o rei ao teatro, “e fazia-o só porque a sua presença atraia muitas pessoas, com grande alegria dos empresários”, sentava-se de maneira a “dar quase as costas à cena”. Perante às frivolidades, frisou o prefeito, a beata “mantinha a modéstia e a inocência de uma alma simples”, a ponto tal que as damas da corte diziam: “Não parecia uma filha de Adão, mas um anjo”.
Enfim, ao questionar-se sobre a atualidade da mensagem de Maria Cristina, o purpurado indicou quatro pontos. O primeiro recorda aos batizados que “somos todos chamados à santidade”. A perfeição da caridade não “é privilégio de uma casta, mas uma oportunidade dada a todos os cristãos, se investirem no bem os seus talentos espirituais de fé, esperança e caridade. São João Bosco exortava também os jovens à santidade”. O segundo consiste em reconhecer que “a verdadeira riqueza e nobreza é o nosso se cristãos, ou seja, filhos do Pai celestial, salvos por Cristo, que nos perdoa e nos fortalece diariamente com a sua graça”. Com efeito, mães, pais de família, jovens, crianças, doentes, pobres “podem encontrar na palavra de Jesus a resposta justa para viver com serenidade e confiança a própria existência”. Por esta razão, ‘pequenez, fraqueza, indigência, fragilidade não são obstáculos para a santidade, se se souber entregar tudo isto ao coração misericordioso de Jesus, que diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei’”.
O terceiro ponto é que os santos como Maria Cristina “despertam o mundo, fazendo-o sair do torpor da mediocridade e do mal para abri-lo ao dinamismo do bem”. Numa sociedade como a atual, na qual “parece que as virtudes são invertidas” e os “vícios, como soberba, avareza, luxúria, gula, ira e preguiça são louvados em detrimento das virtudes, que são difamadas e desprezadas”, os santos “colocam de novo as coisas no devido lugar, mostrando como a pobreza, a paz, a partilha, são beatitudes que edificam a sociedade tornando-a mais santa e humana”. Porque os santos “libertam a sociedade da poluição dos vícios, restituindo valor à virtude e dignidade à vida”.
A este propósito, a nova beata, “jovem mãe que faleceu dando à luz o seu filho esperado, recorda-nos que a nossa existência terá a sua conclusão na vida eterna” (faleceu aos 24 anos de idade). Os santos, prosseguiu o cardeal Amato, “têm a tarefa de nos preceder no céu, de nos preparar o caminho, de nos tirar a angústia da morte e restituir a alegria da vida eterna”. Os santos são “a nossa ponte para o Paraíso”. Por fim, o purpurado concluiu com os bons votos para que a beata “ajude todos a revigorar o fogo da caridade a fim de dar esplendor e nobreza à vida diária, nesta cidade extraordinária de Nápoles, terra de mar, sol, luz e de muita graça divina”.
Fonte: L’OSSERVATORE ROMANO. Ano XLV, número 5 (2.298), 30 de janeiro de 2014, p. 14.
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