O lado aberto

Caros amigos, recordamos nesta “Semana” o itinerário que Cristo assumiu pela nossa salvação: “O justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus” (IPe 3, 18). Suportou muitas dores físicas e morais no caminho do Calvário e tornou-se para nós o ponto de referência necessário para toda a humanidade.

Este “olhar de fé” só é possível em uma atitude contemplativa. Diz o evangelho que, no momento da cruz, os judeus tinham pressa em retirar os corpos dos madeiros porque aquele “era o dia de preparação do sábado, e de um sábado solene” (Jo 19, 31), então “pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirassem da cruz. Quanto a Jesus, viram que estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com a lança, e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19, 31.33-34).

O soldado, provavelmente o centurião, abriu-lhe o lado. Nele o apóstolo Tomé colocou sua mão e, depois dele, este caminho continua livre para todo pecador, para todos os que precisam descansar. É como se o Senhor repetisse no silêncio de sua morte: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30).

Jesus amava mais do que padecia. Seu lado, aberto pela maldade dos homens, tornou-se umbral de seu coração sagrado e amoroso: uma porta de acesso à sua Humanidade Santíssima, que nos introduz em Deus, pois “em Cristo habita corporalmente a plenitude da divindade” (Col 2, 9).

Convido a todos os fiéis que vivam a “Semana das semanas”. Olhem o Bom Jesus, acompanhem suas dores como as de um amigo, as de um irmão. Sem medos, apoiem também sobre Ele suas próprias dolências e sofrimentos. Nos momentos mais atrozes há um especial conforto na companhia silenciosa do crucificado.

Do alto da cruz, Jesus se compadece de nós, abre-nos seu coração, convida-nos a entrar. Lá encontraremos todo amor que um ser humano pode sentir. Mas como teremos acesso ao coração aberto de Jesus? Como cuidaremos de suas feridas? Onde lhe prestaremos ajuda e companhia?

“Todas as vezes que fizestes isto a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 40). Sejamos mais compassivos e misericordiosos com nossos semelhantes. Imitemos o Bom Jesus, que deu a vida para nos salvar!