A Igreja e sua influência sobre a Sociedade Temporal

 O Concílio Vaticano II[1] afirma que o Pai Eterno em Sua insondável sabedoria e bondade, ao criar o universo quis elevar os homens fazendo-os participar da vida divina e, mesmo depois da queda de Adão, em atenção a Cristo Redentor, não os abandonou, concedendo-lhes sempre os auxílios para se salvarem.

“Veio, pois, o Filho, enviado pelo Pai, que ainda antes da criação do mundo nos escolheu nele e nele nos predestinou à filiação adotiva, porque lhe aprouve encabeçar em Cristo todas as coisas (cf. Ef 1,4-5 e 10). E Cristo, para cumprir a vontade do Pai, inaugurou na terra o reino dos céus, cujo mistério nos revelou; e pela sua obediência, operou a redenção” [2].

A Igreja, ainda segundo a Lumen Gentium[3], é o Reino de Cristo já presente no mistério que se desenvolve visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Nascida do amor do Pai, fundada no tempo por Cristo e santificada continuamente pelo Espírito Santo a Igreja tem um fim escatológico e ao mesmo tempo salvador a ser alcançado no outro mundo. Sem embargo, ela está presente aqui na terra, composta de homens que são membros da Cidade Terrena, chamados a formar, na história do gênero humano a família dos filhos de Deus, que deve crescer até a vinda do Senhor. Esta família unida em vista dos bens celestiais e por eles enriquecida foi por Cristo “como sociedade constituída e organizada neste mundo” [4], dispondo de “meios aptos para uma união visível e social”[5].A Igreja, conforme a Gaudium et Spes[6], buscando seu fim salvífico, não se limita a comunicar ao homem a vida divina, mas procura também elevar a dignidade humana, consolidar a coesão da sociedade e dar uma sentido mais profundo a cotidiana atividade dos homens.

A sociedade temporal só tem a se beneficiar com a influência da Igreja, uma vez que esta une os homens não somente em sociedade, mas também em uma espécie de fraternidade como afirma Santo Agostinho[7]: “Oh, Santa Igreja de Deus, tu conduzes e instruis as crianças com ternura, os jovens com força, os anciãos com calma, como comporta a idade, não apenas do corpo, mas ainda da alma. Tu submetes as mulheres a seus maridos por uma casta e filial obediência, não para estancar a paixão, mas para propagar o gênero humano e constituir a sociedade doméstica. Tu dás autoridade aos maridos sobre as mulheres, não para que eles abusem da fragilidade de seu sexo, mas para que sigam as leis de um amor sincero. Tu subordinas as crianças aos pais por uma espécie de servidão livre, e tu colocas os pais acima de seus filhos por uma espécie de terna autoridade. Tu unes não somente em sociedade, mas ainda em uma espécie de fraternidade, os cidadãos aos cidadãos, as nações as nações, e os homens aos homens pela recordação de seus primeiros pais. Tu ensinas aos reis que se devem dedicar por seus povos, e prescreves aos povos que se submetam aos reis. Tu ensinas com cuidado a quem se deve a honra, a quem o afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem a consolação, a quem a advertência, a quem o estímulo, a quem a correção, a quem a repreensão e a quem o castigo; e tu fazes saber como, se nem todas as coisas são devidas indistintamente a todos, a todos se deve a caridade e a ninguém a injustiça”.


[1] CONCíLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja. nº 2.

[2] Ibid., nº 3.

[3] Ibid., nº 3.

[4] Ibid., nº 8.

[5] Ibid., nº 9.

[6]  CONCíLIOVATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja nomundo atual. nº3.

[7] De moribus ecclesiæ, cap. XXX, nº 63.