Deus não desiste de ninguém

Recentemente o Papa Francisco afirmou que Deus nunca se cansa de perdoar, nós é que, infelizmente, cansamos de pedir perdão.

Deus sempre age assim, pois Ele nunca desiste de ninguém, pelo contrário, cria as circunstâncias necessárias para que todos possam dEle se aproximar. Há alguns, porém, além de atraí-los Ele elege para atraírem a outros para Ele. A Sagrada Escritura é rica em fatos que demostram este modo de proceder de Deus: A aliança com Abraão, a eleição dos profetas, o chamado de cada um dos apóstolos entre tantos outros episódios, demostram este amor de Deus para com os homens e como Ele age com uma “segunda intenção”, ou seja, envia a estes que foram atraídos por seu amor para que estes atraiam a outros para Ele.

No século passado deu-se um fato que muito ilustra esta ação Deus ao chamar os seus “apóstolos”.

Deixo a palavra com o Pe. Ooki, SJ, protagonista do belo episódio agora narrado:

Encontrava-me no segundo ano da Universidade de Tóquio, quando estalou a guerra do Pacífico. Ardendo em mim o ideal de fazer alguma coisa grande pela minha pátria e pelo meu Imperador, ofereci-me como voluntário para a frota dos submarinos, e fui aceito.
Inventaram então os torpedos humanos: potentes bombas guiadas por voluntários, metidos dentro, que dirigiam e faziam explodir esses engenhos mortíferos no casco dos navios, nossos adversários.
Como me dominava o ideal apaixonante de fazer o mais possível, alistei-me como voluntário na flotilha dos torpedos suicidas.
Nessa altura acreditava sinceramente que o Imperador do Japão era “Deus” e pensava que, morrendo ao seu serviço, receberia grande recompensa depois da morte.
Cada dia, ao ouvir a lista dos nomes dos meus colegas que tinham dado a vida pela pátria na explosão dos torpedos, sentia dentro do meu peito incrível emoção e perguntava-me a mim mesmo:
– Quando chegará a hora em que também eu entrarei num torpedo ?
Durante vários meses vi partir os “afortunados” companheiros que marchavam para aquela heroica e mortal aventura. Tinha-lhes inveja!
Por fim ouvi o meu nome. Era chegado o dia do meu grande heroísmo e da minha recompensa para além da morte. Pela manhã soaram as sirenes avisando-nos que estivéssemos prontos para entrar em ação. A minha vibração e entusiasmo foram incríveis quando ouvi, através dos alto-falantes, o meu nome. Era um dos escolhidos para dirigir um torpedo de morte. Ia finalmente dar a vida pela Pátria.
Deram-me sete minutos para revistar os motores e os aparelhos.
Vesti o meu traje de escafandro e, antes de me sentar ao volante, lavei a cara e refresquei a testa, porque queria estar plenamente consciente, sem sombra de enjoo, nos últimos momentos da minha vida. Contendo a respiração, esperava o sétimo minuto para ouvir o sinal de partida e lançar-me disparado para o mar e daí para a eternidade.
Sucedeu então o imprevisto. As sirenes soaram longamente em toque de atenção. Com o meu nervosismo quase punha o motor em andamento e me lançava para a frente sem esperar a hora exata da partida. Contive-me, porém, continuando atento. O que eu ouvi não foi a ordem de marchar, mas uma contraordem. Deixar os torpedos suicidas e voltar para o porto.
Todos nós, os rapazes da morte, manifestamos ansiedade e contrariedade nos nossos olhares. Perguntávamos uns aos outros –  Que foi isto?  Porque essa mudança tão repentina?
Já tínhamos deixado cartas de despedida escritas aos pais, às noivas, aos amigos, comunicando-lhes que íamos morrer pela Pátria e pelo Imperador. Até tínhamos encarregado alguém de deixar essa correspondência ao correio.
Em breve, chegou até nós a terrível notícia, mais terrível que metermo-nos no torpedo para morrer. Era a madrugada do dia 15 de Agosto de 1945; a guerra tinha terminado. O nosso Império japonês estava vencido e pedia a paz sem condições. Mordi a língua de raiva e muitos dos meus companheiros choravam.
Durante longo tempo os nossos corações ficaram invadidos pela sensação da derrota e do fracasso. Numerosos colegas não puderam suportar a ideia de o Japão ter ficado derrotado e acabaram com a vida suicidando-se.

Para mim o mais impressionante e doloroso foi ouvir pela rádio a mensagem em que o Imperador anunciava a todos os japoneses, que não era Deus, mas um homem como outro qualquer.
* * *
Pareceu-me que tudo aluía (vinha abaixo) à minha volta. A minha vida estava vazia de sentido. Porque andava eu a combater por um homem como os outros?  Certo dia, dando voltas a tão preocupantes e tristes pensamentos, passei, por acaso, diante dum edifício em que entravam jovens sorridentes e alegres.
Movido pela curiosidade, juntei-me a eles e entrei no recinto. As primeiras palavras que ouvi gravaram-se de tal modo na minha alma, que jamais as esqueci:
“Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nasceu por nosso amor, amou-nos a tal ponto que deu a sua vida para nos salvar a todos”.
Sem saber, tinha entrado pela primeira vez numa igreja católica, onde um sacerdote dirigia a palavra aos fiéis. Foi a primeira vez  na minha vida que ouvi falar em Jesus Cristo. Senti uma impressão muito profunda.
Eu estava para dar a vida por quem não era Deus, quando tinha sido salvo por um Deus que se fez homem. Compreendi um pouco o seu amor e pensei: Por este Homem-Deus não havia eu de fazer nada?
Continuei a frequentar aquela igreja, a instruir-me na fé católica, até que falei com um sacerdote local.
A história de Jesus que nasceu pobre e morreu a amar e perdoar, foi a luz que iluminou minha alma. Por misericórdia do Senhor recebi a fé e fui batizado.
Quis fazer alguma coisa grande por Jesus Cristo, como antes tinha desejado fazê-lo pelo meu Imperador e pela minha Pátria.
Hoje, pela graça de Deus, não sou só cristão, mas também sacerdote católico.
Convenci-me que só pelo sacerdócio me poderia entregar àquele Senhor que tanto me amou e deu a sua vida por mim. Agora o meu ideal é trabalhar para que todos os meus irmãos japoneses, recebam o benefício da fé e a felicidade eterna.