Em nossa vida, qual é o papel da paciência?

Quantas vezes não ouvimos um que outro amigo nos dizer: “Nossa, fulano de tal têm a paciência de Jó. Como ele é tranquilo e não se irrita com nada”. Realmente Jó, uma figura ímpar na História Sagrada, soube dar mostras de uma esplêndida paciência. Quando, de possuidor de numerosos bens, se acha reduzido à miséria, chega a dizer: “O sopro de minha vida vai-se consumindo, os meus dias se apagam, só me resta o sepulcro” (Jó 17,1).

A paciência é uma virtude humana, pois o paciente dá prova de bom senso (cf. Pr. 14,29), e também uma virtude cristã, no dizer de São Paulo: Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12, 12).

A paciência de Deus faz parte da sua pedagogia, sobretudo quando perdoa os pecados dos homens, com uma solicitude sem igual.

A pessoa que é paciente suporta tudo, não com rancor, mas com um estado de espírito todo voltado para Deus. Ela é calma, bondosa, afável, não se irritando com absolutamente nada.

Para ilustrar o que acabamos de comentar, vejamos neste pequeno conto, um belo exemplo de paciência:

Em uma cidade interiorana havia um homem que não se irritava e não discutia com ninguém. Sempre encontrava uma saída cordial, não feria a ninguém, nem se aborrecia com as pessoas.
Morava em uma modesta pensão, onde era respeitado e querido.
Para testá-lo, um dia seus amigos combinaram entre si de levá-lo à irritação e à discussão, numa noite em que o levariam para um jantar em um restaurante.
Trataram de todos os detalhes com a garçonete que serviria a mesa reservada para eles.
Assim que começou o jantar, como prato de entrada foi servida uma saborosa sopa, que o homem gostava muito.
A garçonete servia a todos da mesa. E quando chegou a vez dele, o último, ele levou seu prato para o lado, a fim de lhe facilitar a tarefa. Mas ela foi servir as pessoas das outras mesas.
Ele esperou calmamente e em silêncio que ela voltasse.
Após servir todos os demais, ela passou rente a ele, acintosamente, com a sopeira fumegante, exalando saboroso aroma, como quem havia concluído a tarefa e dirigiu-se à cozinha.
Naquele momento não se ouvia qualquer ruído. Todos observavam discretamente, para ver sua reação.
Educadamente ele chamou a garçonete, que se voltou, fingindo impaciência e lhe disse:  ¬ O que o senhor deseja?
Ao que ele respondeu, naturalmente: ¬ A senhora não me serviu a sopa.
Ela retrucou, para provocá-lo, desmentindo-o: ¬ Servi sim, senhor!
Ele olhou para ela, olhou para o prato vazio e limpo e ficou pensativo por alguns segundos. Todos pensaram que ele ia discutir com a fulana.
Suspense e silêncio total.
Mas o homem surpreendeu a todos, ponderando tranquilamente: ¬ Neste caso eu aceito um pouco mais!

Bom seria se todas as pessoas agissem sempre com paciência e discernimento, em vez de reagir com irritação e sem pensar. Ao protagonista do nosso conto não importava quem estava com a razão, e sim evitar as discussões desgastantes e improdutivas. Quem age assim sai ganhando sempre, pois não se desgasta com emoções que podem provocar sérios problemas de saúde ou acabar em desgraça.

Sobretudo nas dificuldades, devemos manter a paciência, como diz São Paulo: Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança (cf. Rm 5,3s).

A paciência tem sempre uma doçura que atrai enormemente. A alma paciente atrai, a alma impaciente repele, afasta.

Uma alma paciente a gente vê que deixa passar sobre si mesma, dá de si mesma, sem se preocupar, como quê a dizer: “Tire de mim o que quiser, abuse de mim como bem entender. Eu estou aqui para isso, quer apesar disso, quer até por causa disso, quer até na medida em que você tenha abusado de mim”.

Peçamos a Maria Santíssima, modelo de toda a paciência, que obtenha de seu Divino Filho, todas as graças de que necessitamos, para levarmos uma vida de intensa mortificação e paciência para com o próximo, para sermos objetos da misericórdia e bondade divinas.