São Tiago o Filho do Trovão

 

“Terra à vista”, um português gritava do alto do mastro principal, dito isto os outros marinheiros pulavam de alegria dizendo: “Chegamos à Índia, chegamos à Índia”. Enquanto isso, dentro da cabine se encontrava Pedro Álvares Cabral fazendo algumas combinações com os outros nobres, sobre as mercadorias a serem adquiridas na Índia, e… qual não foi a surpresa de todos, quando, ao contrário de indianos, encontraram os índios. Este episódio, no ano de 1500, bem se conhece na história do Brasil.

No decorrer dos séculos, as navegações tiveram muita importância tanto em transportes de mercadorias, como em descobrimentos. No descobrimento do Brasil, nas embarcações vinham, além de nobres e plebeus, missionários católicos para evangelizar os índios na América portuguesa e espanhola. Toda a evangelização da América se deve às primeiras pregações, a dos apóstolos, mais especialmente ao apóstolo da Península Ibérica, São Tiago Maior.

São Tiago Maior, filho de Zebedeu, foi intitulado de maior por ser mais velho que São Tiago Menor, filho de Alfeu. A carta de São Tiago, que se encontra na Bíblia pertence a São Tiago Menor, que era bispo de Jerusalém.

“Caminhando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e o irmão deste, […]. Prosseguindo um pouco adiante, viu também Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão, João, consertando as redes no barco. Imediatamente, Jesus os chamou. E eles, deixando o pai Zebedeu no barco com os empregados, puseram-se a seguir Jesus” (Mc 1,16-20). Vê-se nesta passagem de São Marcos, que um dos primeiros discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo foi São Tiago, que mais tarde seria elevado a apóstolo: “Eram: Simão (a quem deu o nome de Pedro); Tiago, o filho de Zebedeu, e João, seu irmão (aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer filhos do trovão) e ainda André, Felipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu” (Mc 3,16-19). São Tiago Maior, por seu temperamento fogoso, foi nomeado por Nosso Senhor Jesus Cristo de “filho do trovão” (Boanerge).

São Tiago Maior testemunhou a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,37), a transfiguração (Mc 9,2-13) e a agonia de Jesus no horto das Oliveiras (Mc 14,32). Após a Ascensão de Jesus, teria evangelizado a Espanha, tornando-se seu primeiro evangelizador e depois seu patrono. Para revigorar esta tradição, no século IX o bispo Teodomiro, da cidade de Iria, afirmou ter reencontrado as relíquias do apóstolo e desde aquela época, a cidade que depois mudaria o nome para Santiago de Compostela (campo das estrelas).

  Este grande apóstolo foi preso pouco antes de São Pedro em Jerusalém, e foi decapitado por ordem do rei Herodes Agripa (At 12,2), depois da execução de Santo Estevão, diácono grego e fervoroso pregador cristão. Embora Santo Estêvão seja o protomártir, ou seja, o primeiro cristão a ser martirizado, São Tiago Maior foi o primeiro mártir entre os Apóstolos de Cristo, os quais foram, com exceção de São João, sucessivamente martirizados após a morte dele. Sua festa votiva é em 25 de julho. Até os dias de hoje no Santuário de Compostela, descansam em uma urna, os restos mortais de São Tiago Maior.

São Tiago foi um apóstolo e um missionário movido por extraordinária ousadia. Empreendeu uma epopeia que, levando-se em conta as condições rudimentares da época, pode ser considerada tão – ou mais – audaciosa quanto uma viagem, em nossos dias, até a lua. Pois o “filho do trovão” partiu de Jerusalém para pregar o Evangelho aos povos do Ocidente, e chegou aos extremos da Península Ibérica. Homem de gigantesca estatura moral, recebeu o infalível auxílio de Maria Santíssima, que lhe apareceu para reconfortá-lo, animando-o a não recuar diante de nenhum obstáculo na sua magnífica obra evangelizadora.

Enquanto seu irmão viveria muitos anos, Tiago, porém, não viveu muito mais tempo. Desde o princípio, pondo em parte a aspiração humana, elevou-se a tão grande santidade que bem depressa recebeu a coroa do martírio.[1]

Que São Tiago Maior ilumine cada vez mais a história das civilizações como o santo da ousadia, da audácia.


 

[1] Liturgia das Horas. Das homilias sobre Mateus, de São João Crisóstomo, bispo. Séc. IV. Página 1445