A voz de Deus no interior de nossas almas
Em todos os seus empreendimentos e ações, o homem trabalha sempre para um fim. Movido pelo quê? De salutares ou nocivas, todos vivem de esperanças. Ainda quando aparentam ser improváveis de se realizarem, os homens adequam suas vidas às esperanças que possuem. Contudo, o que é a esperança?
A Esperança pode ser compreendida como uma paixão ou movimento da sensibilidade que tende para um bem sensível ausente, mas que pode ser alcançado ainda que com dificuldade, e um sentimento, entre os mais nobres do coração humano, que se dirige a um bem honesto ausente. É um sentimento de grande importância, pois sustém o ser humano em seus empreendimentos difíceis. De maneira sobrenatural, sustenta o católico em meio às dificuldades relativas à sua santificação e salvação. Tem por objeto as Verdades reveladas que se referem à vida eterna e aos meios de adquiri-la, e se funda na onipotência e bondade divinas.
A Esperança contribui para a nossa santificação de três maneiras principais: primeiro une-nos a Deus; segundo, dá eficácia às nossas orações e terceiro, torna-se princípio de atividade fecunda.
Une-nos a Deus desapegando-nos dos bens terrenos. A todo o momento somos solicitados pelos prazeres sensíveis, pelo orgulho, pela sensualidade… enfim, pelas alegrias, legítimas e ilegítimas, da esfera natural. No entanto, a esperança quando apoiada numa fé viva e ardente, mostra-nos que a todas as felicidades terrenas faltam dois elementos essenciais: a duração e a perfeição. Nenhum bem terreno é suficiente de si para satisfazer o ser humano uma vez que este foi criado por Deus com sede do infinito. Após o deleite, sempre há o enfado e saciedade.
A nossa inteligência jamais se dá por satisfeita sem o conhecimento da Causa perfeita, e o nosso coração não se contenta a não ser em Deus. Só Ele é a plenitude do Bonum, Verum e Pulchrum. E, bastando-Se a Si mesmo, evidentemente, basta-nos a nós.
A esperança, unida à virtude da humildade, dá eficácia às nossas orações e nos obtêm dos céus os favores de que necessitamos. Em seus milagres, Cristo nosso Senhor, jamais desprezou quem a Ele recorreu com confiança. Não atendeu Ele o centurião, o paralítico descido pelo telhado, os cegos de Jericó, a Cananéia, a pecadora pega em adultério e o leproso? Ademais não prometeu ele que “Em verdade, em verdade vos digo: tudo o que pedires a meu Pai em meu nome, Ele vos concederá” (Jo 16, 23)? Afinal, nada honra tanto a Deus como a confiança nEle que não se deixa vencer em generosidade, concedendo superabundantes graças.
Por fim, a esperança é um princípio de atividade fecunda. Primeiro, por que produz santos desejos, em particular, o anelo do Céu e de Deus. Ora, esse anseio dá à alma o impulso e o ardor necessários para alcançar o bem suspirado e ampara os esforços empregados para a obtenção do fim desejado. Segundo, aumenta-nos as energias por meio da expectativa duma recompensa que superará em muito os nossos empreendimentos. Se no mundo se trabalha com tanto afã para adquirir bens perecíveis, que as traças corroem e os ladrões roubam, com quanto mais razão não devemos nós esperar, quando buscamos uma coroa incorruptível! Dá-nos, ainda aquela coragem, certeza e constância que a certeza do triunfo produz, pois, apesar de fracos por nós mesmos, somos fortes pela própria força de Deus, pois Ele prometeu nos conceder.
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