As Quaresmeiras

No primeiro versículo da Bíblia encontramos que: “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn 1,1). O início da Escritura Sagrada não poderia ser outro, uma vez, que desta afirmação brota tudo o que lhe segue.  Canta o salmista: “Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: que é o homem, digo-me então, para dele vos lembrardes. […] Vós o fizestes pouco inferior aos anjos, de glória e de honra o coroastes. Destes a ele o poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes toda a criação.” (Sl 8, 4,6)

Deus em sua infinita sabedoria criou tudo com conta, peso e medida, ou seja, para cada criatura há uma razão de existir em função do rei da criação: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre os pássaros dos céus e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra.” (Gn 1, 26)

Por exemplo, ao criar o mar, Deus quis refletir nele sua grandeza, para dar ao homem a oportunidade de, ao contemplá-lo, meditar sobre Deus infinito; ao criar o cordeiro, Deus quis nele refletir a candura e mansidão do Cordeiro por excelência que se deixaria imolar na cruz, e dar a oportunidade ao homem de buscar esta mansidão ao ver este animal. Seriam inúmeros os exemplos a serem dados, pois não há criatura que não traga em si algum ensinamento.

Dessa forma, podemos observar uma peculiaridade que nos toca de perto. Neste período da quaresma vemos florir de modo exuberante nas regiões tropicais e subtropicais da América as quaresmeiras ou flor-da-quaresma. O nome popular dado às árvores do gênero Tibouchina demonstra como todos percebem a ligação destas com o período quaresmal. Vemos no roxo das flores a delicadeza de Deus em fazer o homem recordar da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O período penitencial da quaresma convida à reflexão, ao jejum, à oração e às obras de caridade. Nestes dias a Igreja retira da liturgia os cantos alegres, a recitação do Glória, a aclamação com Aleluias, as flores que adornam o altar e reveste os sacerdotes com o roxo. Esta cor, na quaresma, simboliza a penitência e a conversão (mudança de vida).

Há 1980 anos as quaresmeiras floriram nesta Terra de Santa Cruz quando o Filho de Deus dava seu último suspiro no alto do madeiro. Ainda hoje elas florescem exuberantes para recordar à humanidade que não foi por bens perecíveis como o ouro e a prata que foi redimido o homem, mas pelo precioso sangue de Cristo (Cf 1Pe 1, 18).