Cruz e Alegria – Domingo Laetare

“Alegra-te, Jerusálem! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Cf Is 66, 10-11).

A perícopa acima é utilizada como antífona de entrada para a Missa do quarto Domingo da Quaresma, conhecido como Domingo Laetare (Domingo da Alegria), em função do início do Introito: “Alegra-te”.

A Igreja, nossa mãe, quer nos dar a compreensão do papel do sofrimento em nossa existência, educando-nos ao longo do período quaresmal, através do jejum, da oração e da esmola (Cf. Mt 6, 1-18), mas não deixa de nos lembrar que a alegria está na essência da vida cristã. Por essa razão, Ela nos convida, neste Dies Domini, a uma pausa na mortificação própria à Quaresma, permitindo aos sacerdotes substituírem os paramentos de cor roxa pelos de cor rosa (caso disponham deles) e aos fieis adornarem os altares com flores.

Agindo assim, a Igreja ensina que a alegria é incompatível com a tristeza, mas não com a penitência. “O sofrimento existe. Mas é um dom admirável de Deus para que o homem, auxiliado pela graça, tempere e eleve sua personalidade. São Francisco de Sales chamava o sofrimento o oitavo Sacramento. Ocultar a dor é esconder um dos mais nobres e importantes aspectos da existência. Se se analisar bem a vida, ver-se-á que quase toda ou toda a beleza que ela contém resulta de uma dor nitidamente antevista e nobremente suportada até o fim.”[1]

Caminhamos a passos largos para a Paixão do Senhor, ou seja, para o supremo sacrifício do Homem-Deus no alto da Cruz. Porém, não é na Cruz que termina a história do Salvador. A Sexta-feira Santa é a antevéspera da Páscoa da Ressurreição, festa da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.

Os sofrimentos, sejam de alma ou de corpo, fazem parte da existência de todos os que vivem “neste vale de lágrimas”. Quando mal aceitos conduzem ao ódio e à revolta, além de não serem solucionados. No entanto, quando aceitos com a resignação cristã, purificam e santificam.

O Papa Paulo VI explica que existem vário graus de felicidade, sendo que “sua expressão mais nobre é a alegria ou ‘felicidade’ no sentido estrito, quando o homem, a nível de suas faculdades superiores, encontra sua satisfação na posse de um bem conhecido e amado. […] Com maior razão conhece a alegria e a felicidade espirituais quando seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado como bem supremo e imutável” [2].

Deus pôs no homem uma sede de infinito que só poderá ser saciada por Ele. No entanto, a tendência do ser humano é de saciar esta sede nas criaturas de Deus e não no Deus das criaturas. Continuamos com Paulo VI: “A sociedade técnica conseguiu multiplicar as ocasiões de prazer, mas encontra muita dificuldade em engendrar a alegria. Pois a alegria tem outra origem: é espiritual. O dinheiro, o conforto, a higiene, a segurança material não faltam com frequência; no entanto, o tédio, a aflição, a tristeza fazem parte, infelizmente, da vida de muitos” [3].

A Cruz e a Alegria não são incompatíveis, ao contrário, é na Cruz que nos espera Jesus para conduzir-nos à glória comprada com Seu preciosíssimo Sangue. “Portanto, em união com Nosso Senhor Jesus Cristo, abracemos decididamente a nossa cruz e sigamos o Divino Mestre rumo à glória da eternidade, onde não haverá sequer sombra de padecimento, mas só a felicidade total e imperecível: ‘Per crucem ad lucem’”[4] !


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Trabalho-diversão e trabalho-heroísmo. Em Catolicismo, março/1958, nº 87.

[2] PAULO VI. Exortação apostólica Gaudete in Domino, nº 6.

[3] Idem, nº 8.

[4] CLÁ DIAS, João S. É a dor inevitável em nossa existência? Pode o fiel encontrar a verdadeira felicidade nesta vida? No que consiste ela? Em Arautos do Evangelho, Agosto/2011, nº 116, p. 10 à 17.