Se salvará quem rezar

 

 

 

Algo extraordinário em mais um dia do Curso de Férias dos Arautos do Evangelho. No meio de uma das exposições, o

 

Arcebispo de Madrid, Cardeal Antonio María Rouco Varela visitou o Thabor, Seminário Menor dos Arautos. A recepção foi calorosa e este homem de Deus dirigiu palavras de fervor e entusiasmo à juventude que estava diante dos seus olhos. Em seguida o tema da oração continuou a ser tratado, fortalecido pela presença de um príncipe da Igreja Católica Apostólica e Romana.

Dessa forma, o relato do sucedido toma um colorido especial, pois, não podia haver um invólucro melhor para personificar a importância da oração, do que a peça teatral realizada no último dia do Curso de Férias.

Como assim? Isso aconteceu porque a estória, narrada em uma peça teatral, fora a continuação de uma obra cênica do Curso anterior, em janeiro, que contava a história acontecida hipoteticamente na França, com um jovem camponês que fora chamado a ocupar o lugar de herdeiro do rei, uma vez que o monarca havia perdido seu filho. Em síntese, o menino aceitou e depois de passar por duras provas de fidelidade despretensiosa, fora aceito no reino e de aí em diante, efetivamente ocupou o lugar de príncipe, e, muito mais que isso; o novo filho de Sua Majestade.

Na continuação, a questão se apresentou de um modo mais complexo. O rei recebe um pedido do Papa para auxiliar na luta contra os inimigos da Fé em um lugar muito distante. Uma vez que o monarca fizera uma promessa de realizar uma peregrinação para um lugar santo quando Deus lhe concedesse um sucessor, na mente do soberano as duas coisas uniram-se.

Mas, quem deixaria como regente e quiçá possível rei em seu lugar – pois a missão poderia custar-lhe a vida – após sua partida? A solução ele encontrou em seu filho adotivo, o Príncipe Miguel. E assim sucedeu.

Porém, antes da partida, o rei entrega ao príncipe um símbolo de sua presença para quando este estivesse longe: seu rosário pessoal. Mas, em certo sentido mais que isso, o monarca aconselha seu filho a sempre recorrer a Nossa Senhora, sobretudo, nos momentos de aflição.

A partida é dura, pois, o afeto de quem é reto, casto e caridoso é maior do que se pensa. Um último olhar e um último adeus. A corte e o príncipe se despedem do rei e da comitiva.

 ***

             Algum tempo depois, a cerimônia de vassalagem é realizada na corte e todos os nobres, representando o povo juram fidelidade ao novo governante. Contudo, um dos homens de escol que ali se encontrava começa a elogiar o novo rei com más intenções.

Pobre da alma que não se vigia e aceita elogios! Se ele soubesse que viemos do barro em pouco tempo nos tornaremos cinza… “vaidade das vaidades”… O “Rei Miguel” cede em matéria de orgulho e começa o caminho de sua ruína.

Para piorar, no dia seguinte D. Bertrand, o maldoso cavaleiro de antiga família, o mesmo que propositalmente iniciara ao príncipe o ofício de satanás – a soberba –, incita Sua Alteza à ociosidade e ao amor pelas coisas frívolas, por meio de conversas despreocupadas, risos intemperantes e conselhos sofísticos e de críticas com relação à corte.

O trato do jovem soberano mudara com seus servos, ficou mais ríspido e vulgar nas relações com os homens da corte chegando a causar uma reação sadia nos conselheiros que queriam a todo o momento encontrar um modo de dizer isso ao novo rei.

Em certa ocasião isso aconteceu. O marechal Messieur Martin, obteve uma audiência com Dom Miguel para tratar sobre as fronteiras do reino.

Após ser atendido, o antigo homem de guerra começou a explicar sobre as fronteiras que mais risco corriam. Em dado momento, Messieur Martin diz que um traidor deixou desguarnecido o portal mais importante de uma fortaleza chave dentro dos marcos do reino.

Foi só o velho marechal enunciar a questão que a ira do novo monarca se acendeu – mais intemperante do que zelosa – dizendo:

– Maldito! Esse homem não se dá conta do que fez? Ele deve ser punido!

– Majestade, retrucou o fiel cavaleiro, qual novo Natã a dizer as verdades para seu rei: esse homem és tu! Não percebes que com sua conduta atual deixaste a porta de tua alma aberta para as insídias do demônio, do mundo e da carne? Vós deveis ser o exemplo do reino e símbolo de vosso pai que tanto fez pelo povo e pela Igreja! Perdoe se vos ofendo, mas, são essas as acusações que minha consciência quer fazer antes do vosso encontro com aquele que é três vezes santo e Senhor do universo.

É duro cair, contrair um vício, ocorrer em uma falta. Mais difícil ainda é reconhecer e ter forças para se levantar. Sem embargo, a Graça de Deus pode tudo, ela transforma pedras brutas em filhos de Abraão e faz brotar água nos desertos mais tórridos. E no quase infindo areal da alma de Dom Miguel, uma gota de orvalho brilhou. O arrependimento brotou em seus olhos e a oração lhe deu forças para reparar suas más tendências fúteis e libertinas.

Enquanto isso acontecia, bem longe dali uma conspiração reunidas por Messieur Bertrand preparava uma cilada para o jovem rei. Queriam eles mata-lo em seus aposentos, alegando usurpação de poder por parte do herdeiro do trono (como pode um herdeiro usurpar o posto que lhe compete…).

Para malograr a vida de Dom Miguel, chega uma missiva vinda das campanhas de seu pai, para lhe informar que este, se encontrara com Deus. Sim, o rei era morto! Como sempre fora de seu feitio, apesar de muita prudência, ocupara o lugar mais difícil na batalha e fora atingido mortalmente. Subia ao céu mais um filho de São Luis.

Todavia, o coração jovial do regente recebia um golpe difícil de recompor. Se não fosse a oração confiante em Maria Santíssima, talvez tivesse soçobrado. Os nobres lhe deram um apoio formidável e a ajuda de Messieur Henri, seu melhor amigo, lhe auxiliou debalde.

Ao cair da noite, o sinistro Messieur Bertrand troca as guardas do palácio por sua gente. Esses homens de corte, quando não são dados às coisas sublimes e sobrenaturais podem ser por vezes verdadeiras serpentes.

Quando o novo rei entra em seus aposentos, se espanta, pois tão logo comparece aquele que lhe havido levado para o mal caminho.

– Messier Bertrand, o que fazeis aqui? Perguntou Dom Miguel desgostoso.

– Majestade, preciso de uma audiência urgente com o senhor…

Assim que ele diz isso, outro nobre corrupto se assoma com as mãos próximas à copa da espada.

– Precisamos resolver um problema em nosso reino, disse o infame.

– Não, respondeu o rei, amanhã trataremos disso. Isso não são horas de resolver problemas do reino.

– Não majestade, com voz firme indagou o cabecilha da contenda, vós deveis pagar pelo que fizeste. Vós sois um usurpador do trono e deveis receber a pena de morte agora mesmo!

Outros guardas se aproximam, desembainhando a espada para ajudar a executar o ofício. Miguel corajosamente toma a sua e pede a Nossa Senhora que lhe valesse neste momento.

E, quando a batalha ia se dar, Messieur Henri aparece com outros cavaleiros e começa uma luta ferrenha entre os da luz e os das trevas. As espadas se batem. Objetos do palácio são quebrados em virtude dos movimentos dos que lutavam por sua vida, até que, em um movimento Dom Bertrand é ferido de morte e cai por terra.

Porém, Henri o melhor amigo de Dom Miguel também é ferido na cabeça e está prestes a encontrar-se com o falecido rei. Antes disso um padre dá a unção dos enfermos neste cavaleiro que parece ainda ter chances de viver.

O sacerdote se dirige a Dom Bertrand e percebe que este ainda tem um pouco de vida. Assim, oferece-lhe a oportunidade de se reconciliar com Deus antes de sua partida. Qual não foi sua surpresa com a resposta do perverso cavaleiro:

– Vá embora! Não quero sacramentos!

Talis vita, finis ita, disse o representante de Cristo, quem não reza durante a vida, dificilmente será fiel no seu fim!

 ***

 Depois de alguns dias, Dom Miguel prepara uma cerimônia para condecorar seu amigo, Messieur Henri que se recuperava de suas feridas obtidas na noite que ajudou a salvar a vida do jovem soberano.

Todos os nobres estavam com seus trajes mais belos. Perucas empoadas, pedras preciosas como botões das casacas adamascadas com tecidos de cores belíssimas. Dom Miguel era o pináculo de toda essa beleza, com uma coroa de brilhantes e portando um cetro de ouro.

Quando tudo estava prestes a começar, as trombetas são tocadas e uma grande comitiva entrava de surpresa no palácio. No fim do cortejo vinha seu pai o rei com um manto vermelho com flores de lis douradas, de cetro e com uma coroa maravilhosa!

Seria aparição? O que aconteceu. Após entrar solenemente, se descobre a verdade: a carta era falsa e o rei não havia morrido, mas sim, obteve uma vitória triunfante sobre os inimigos!

Nossa Senhora que acompanhou esse Miguel, protege a todos nós, sobretudo quando pedimos sua ajuda e rezamos para Ela. Essa história, bem pode servir para cada um, pois todos devemos passar por provas. Nossa vida é uma prova contínua, e, só será com a oração que conseguiremos vencer como o príncipe venceu.

Essa foi a mensagem final que sintetizou o Curso de Férias e ajudou a todos os jovens participantes a ter um espírito de oração a toda prova. Quem viu as graças que a Mãe de Deus fez descer sobre seus filhos, pode dizer que se salvará quem rezar